Empreendedor da Midialogia da Unicamp conta sua trajetória com startups no Vale do Silício

Captura de vídeo de entrevista de Gian Berselli para o Unicamp Ventures. Rose Ramos e Gian Berselli em ambiente externo. Rose entrevista para Gian o Unicamp Ventures. Fim da descrição.

Empreendedor da Midialogia da Unicamp conta sua trajetória com startups no Vale do Silício

Texto: Rose Ramos

Em março de 2024,  Rose Ramos, atual presidente do grupo Unicamp Ventures, conversou com Gian Berselli, empreendedor serial nos Estados Unidos e egresso do curso de Comunicação Social com Habilitação em Midialogia pela Unicamp, em 2012. Ele compartilhou um pouco de sua trajetória e deixou dicas aos empreendedores da Unicamp sobre o ecossistema de negócios no Vale do Silício.

De Barão para o Vale do Silício

A trajetória de Gian Berselli, da Midialogia na Unicamp até o Vale do Silício, é uma narrativa rica em aprendizados e superação de desafios. Com um misto de nostalgia e satisfação, Gian recorda o início de sua jornada acadêmica e profissional: “Quando me vi frente a várias opções de curso, estava indeciso entre Música e Comunicação Social. A música me fascinava, mas senti que Comunicação, especialmente a Midialogia na Unicamp, me ofereceria um leque mais amplo de oportunidades”. 

Sua decisão foi profundamente influenciada por uma busca interna de autoconhecimento e uma visão pragmática sobre as oportunidades futuras. “Optei por Midialogia porque percebi que era um campo em expansão, capaz de abraçar minha paixão por tecnologia e comunicação. E, sinceramente, foi a melhor decisão que já tomei,” afirma Gian com convicção.

A transição para o Vale do Silício foi marcada por uma série de experiências enriquecedoras e, em alguns momentos, desafiadoras. “Eu não planejei meticulosamente minha vinda para o Vale. Foi uma combinação de curiosidade, desejo de explorar e, claro, um pouco de sorte. Inicialmente, vim para fazer um mochilão e explorar as oportunidades de estudo. Acabei me apaixonando por São Francisco e pela energia inovadora daqui,” conta Gian. 

Sua decisão de prosseguir com um mestrado nos Estados Unidos foi influenciada por essa experiência inicial. “Escolhi meu mestrado com base no que queria experimentar e aprender. O programa era muito hands-on, focado em trilhas sonoras, o que era perfeito para mim. Foi um mergulho profundo na prática e na experimentação, algo que eu valorizo até hoje” reflete Gian, destacando a importância de se manter aberto a novas experiências e aprendizados contínuos.

Empreendedorismo com visão Global

Gian destaca que, em sua visão, o empreendedorismo e a arte estão intrinsecamente conectados, especialmente hoje. Para ser um artista, ele afirma que é preciso adotar uma mentalidade empreendedora, criar sua marca e navegar no mercado com astúcia. Esta filosofia o guiou não apenas em sua carreira artística, mas também no desenvolvimento de negócios inovadores.

Sua primeira experiência empresarial significativa veio com a cofundação de uma startup no mercado chinês, juntamente com dois colegas da época de mestrado. “Eles me viram como alguém desenvolto e talentoso e me convidaram para iniciar esse projeto na China. Embora meu papel fosse mais focado nos Estados Unidos, gerenciando o networking e a contratação de talentos, aprendi imensamente sobre a importância dos relacionamentos no mundo dos negócios, especialmente na China, onde o mercado funciona de maneira muito peculiar,” Gian relata. Essa experiência não apenas expandiu seu horizonte empresarial, mas também o imergiu em um aprendizado cultural profundo, destacando as nuances de navegar em um mercado tão distinto quanto o chinês.

O empreendedor também reflete sobre os desafios e aprendizados dessa jornada, destacando como o intercâmbio cultural promoveu seu desenvolvimento. Para Gian, as diferenças culturais impõem diversos desafios, mas o maior aprendizado é a importância da comunicação clara e eficaz. Sua aventura empresarial na China terminou em meio a complicações no mercado e a pandemia, mas foi um capítulo valioso que preparou o terreno para seus futuros empreendimentos.

Após retornar aos Estados Unidos, Gian fundou a Astral Wolf, uma empresa focada na produção de música para bem-estar e meditação, identificando e capitalizando em um nicho específico que ele percebeu estar carente no mercado. “Percebi que havia uma demanda não atendida por produtores que entendessem a essência da música para meditação e bem-estar. A Astral Wolf nasceu dessa necessidade e focamos em atender esse segmento específico,” Gian detalha, sublinhando como sua capacidade de identificar oportunidades de mercado e se adaptar a elas foi crucial em sua jornada empreendedora.

A história de Gian Berselli é um testemunho do poder de combinar paixões com visão empreendedora, adaptabilidade e uma compreensão profunda dos mercados globais. Seu percurso destaca a importância de estar aberto a aprender com cada experiência, seja ela de sucesso ou de falha, e de sempre buscar inovar e explorar novos territórios.

Terceiro ato empreendedor: A Papaya e aprendizados do early stage

No terceiro ato de sua jornada empreendedora, Gian Berselli introduz à Papaya, um projeto ambicioso que busca transformar a forma como artistas e criativos se conectam e colaboram no vasto universo digital. A gênese da Papaya é narrada por Gian como um mix entre intuição e análise meticulosa: “Nasceu do estômago, mas também de uma reflexão profunda sobre as dores do mercado que eu mesmo experimentei. Acho que isso faz toda a diferença, poder falar que você está tentando resolver uma dor que você viveu.”

Inicialmente concebida para utilizar blockchain na tokenização da propriedade intelectual, a Papaya evoluiu significativamente. Gian explica a pivotagem do projeto: “Quando mergulhamos de cabeça, percebemos que a nossa primeira tese, apesar de interessante, não resolvia de fato o problema que queríamos atacar. Aprendi que é essencial focar no problema em si, mais do que na solução proposta inicialmente.”

Transformando-se no que Gian descreve como “o LinkedIn para artistas”, a Papaya agora mira em resolver o desafio da conexão no setor criativo. Seu objetivo é facilitar a interação entre artistas e os diversos provedores de serviço do ecossistema criativo, desde músicos e produtores até artistas visuais e atores, buscando entender e servir a uma comunidade ampla e diversificada.

Para empreendedores na fase inicial, Gian compartilha valiosas dicas extraídas de sua experiência com a Papaya:

  • Foque nas dores reais do mercado: A paixão pelo problema que você está tentando resolver deve ser o motor do seu projeto. Resolver uma dor que você compreende profundamente não apenas te dá credibilidade, mas também direciona o projeto de maneira mais eficaz.
  • Esteja aberto a pivotar: Não se apegue cegamente à sua ideia inicial. Se aprofundar na pesquisa e no entendimento do mercado pode revelar que a direção precisa ser ajustada. O importante é resolver o problema, não se casar com a solução inicial.
  • Construa uma comunidade: O sucesso de uma startup muitas vezes reside na capacidade de construir uma comunidade engajada. Para a Papaya, cada usuário é vital. Já temos mais de 200 usuários ativos em nosso MVP, o que valida nossa direção e nos motiva a continuar.
  • Levantamento de fundos de forma estratégica: Postergar o levantamento de capital pode ser vantajoso. Isso permite uma diluição menor no início. Agora, estamos na fase de levantar fundos, mirando primeiro em investidores-anjo e depois em fundos de investimento, buscando sempre o melhor para a empresa.
  • Valorize sua equipe: Reconhecer e reter talentos é crucial. Estamos tentando contratar estagiários que se destacaram. A capacidade de manter uma equipe talentosa é essencial para o crescimento e sucesso do negócio. E com frequência optamos por pessoas formadas na Unicamp, pois seu conhecimento e capacidade de fazer a diferença são únicos.

A história da Papaya, ainda em plena evolução, é um testemunho do dinamismo do empreendedorismo moderno, onde a adaptabilidade, a paixão pelo problema e a construção de uma comunidade forte são chaves para o sucesso.

Dicas para quem quer empreender no Vale do Silício

Gian destaca ainda a natureza dinâmica e transacional do ecossistema de negócios no Vale do Silício, um ambiente profundamente enraizado na cultura do empreendedorismo. “O ecossistema aqui é totalmente voltado para o empreendedorismo. Acho isso incrível e é uma grande diferença em relação ao Brasil. Aqui, as relações são mais transacionais, focadas em como as partes podem se ajudar mutuamente,” explica Gian.

Embora reconheça a diferença cultural e de abordagem entre o Brasil e os EUA, Gian ressalta o valor que os profissionais brasileiros trazem para o mercado internacional. O pensamento crítico e a capacidade de resolver problemas de maneira criativa são marcas registradas do profissional brasileiro, destaca Gian, especialmente aqueles formados pela Unicamp, onde a ênfase no pensamento crítico e na inovação é significativa.

Para aqueles que estão considerando dar o salto para o empreendedorismo no Vale, Gian oferece as seguintes dicas, juntamente com reflexões sobre como a Unicamp prepara seus alunos para esses desafios:

  • Conheça o ecossistema e seja adaptável: O Vale do Silício é notoriamente rápido e competitivo. Entender esse dinamismo e estar pronto para se adaptar é crucial.
  • Valorize as habilidades críticas e criativas: A capacidade de pensar de forma crítica e resolver problemas de maneiras inovadoras é um diferencial significativo. A Unicamp, com seu foco em inovação e pensamento crítico, prepara seus alunos para esse cenário.
  • Construa relações transacionais e transparentes: Aprenda a navegar em um ambiente onde as relações são mais diretas e focadas no mutualismo profissional.
  • Considere o melhor ambiente para seu negócio: Não se limite ao Vale do Silício se outras regiões oferecerem melhores oportunidades para seu empreendimento. A saturação do mercado no Vale pode ser um desafio, enquanto outros locais, como o Texas, oferecem um ecossistema mais acolhedor e menos competitivo.
  • A Unicamp como trampolim: A experiência e o networking adquiridos na Unicamp podem ser um diferencial enorme, tanto no mercado brasileiro quanto no internacional. Minha primeira ação foi buscar profissionais da Unicamp, pois conheço a qualidade e o nível de preparação que o curso oferece.

Gian reforça também seu apreço pela Unicamp e se coloca à disposição para compartilhar sua experiência com futuros empreendedores. Seu testemunho não apenas destaca a importância de uma sólida formação acadêmica e profissional, mas também sublinha o valor das redes de contato e da capacidade de adaptação em um cenário empresarial globalmente conectado. Este capítulo final ressalta uma mensagem de otimismo e encorajamento para todos que aspiram a transformar suas ideias em realidade, munidos de uma visão global e da excelência educacional da Unicamp.

Assista ao vídeo com a entrevista na íntegra:

Saiba mais sobre o ecossistema Empreendedor da Unicamp

A Papaya é considerada uma empresa-filha da Unicamp por seu fundador ser um ex-aluno da Universidade. Empresas-filhas são aqueles empreendimentos cujos fundadores tenham ou tiveram vínculo formal com a Unicamp.

A Inova mantém o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. Sua empresa pode ser considerada filha da Unicamp? Faça seu cadastro para compor o ecossistema: https://www.inova.unicamp.br/cadastro-filhas/