Conduto neural desenvolvido na Unicamp acelera recuperação de nervos lesionados

Foto de uma mulher adulta, de jaleco branco, sentada em bancada de laboratório, segurando com luvas azuis um suporte circular com amostras. Atrás dela, há uma cabine de fluxo laminar com equipamentos de biotecnologia, entre eles uma impressora 3D branca com a marca “Allevi”. O ambiente é bem iluminado, com tons de azul e branco predominantes. A pesquisadora olha para a câmera e sorri. Fim de descrição.
Disponível para licenciamento, tecnologia combina impressão 3D, rotofiação e polímeros bioabsorvíveis, reduzindo a necessidade de cirurgias invasivas

Texto: Adriana Arruda – Inova Unicamp | Fotos: Igor Alisson – Inova Unicamp

Lesões em nervos periféricos, responsáveis por transmitir sinais entre cérebro, medula e músculos, representam um dos desafios mais complexos da medicina regenerativa. Elas podem resultar de cortes, traumas ou compressões, comprometendo funções como sensibilidade das mãos e movimento dos membros e tecidos do corpo. Embora o sistema nervoso periférico apresente certa capacidade de regeneração espontânea, ela é restrita a lacunas muito pequenas, inferiores a 5 milímetros.

Para falhas maiores, o procedimento mais utilizado é o autoenxerto, em que um nervo do próprio paciente é retirado para preencher a lacuna. Apesar de ser considerado o tratamento mais utilizado pela baixa chance de rejeição, o método pode exigir múltiplas cirurgias, causar perda de sensibilidade no local doador, risco de infecção e formação de neuromas (crescimentos anormais de tecido nervoso). Além disso, sua eficácia é menor em lesões extensas, acima de 5 centímetros.

Como alternativa a este cenário, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram condutos de guia neural, tubos porosos que funcionam como estruturas temporárias, orientando o crescimento dos nervos lesionados. Esses condutos criam um microambiente controlado, e permitem o transporte de oxigênio, nutrientes e remoção de resíduos, promovendo regeneração mais organizada.

O desenvolvimento da invenção foi liderado por Laís Pellizzer Gabriel, docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e coordenadora do Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros (LPol) da Unicamp, que orientou a dissertação de mestrado de Camila Sartori, a partir da qual a tecnologia foi originada.

“A ideia surgiu durante uma busca na literatura por scaffolds poliméricos (estruturas que servem de suporte para o crescimento celular) impressos em 3D. Assim que conheci o conceito de conduto neural, fiquei encantada com o seu potencial para contornar limitações dos tratamentos tradicionais”, contextualiza Sartori.

“Nosso objetivo foi criar uma alternativa viável ao autoenxerto em casos de falhas maiores, onde a regeneração espontânea do nervo já não é possível”, explica a professora Laís.

Uma alternativa de ponta para a regeneração 

A tecnologia combina impressão 3D e rotofiação para produzir um tubo poroso e resistente, revestido internamente por fibras ultrafinas

Foto em close-up de um par de mãos com luvas azuis de látex segurando um suporte circular branco, com pequenas amostras metálicas fixadas na superfície. A cena acontece em um ambiente de laboratório, com tons claros e instrumentos científicos ao fundo desfocados. Uma das mãos aponta para as amostras, destacando o foco da pesquisa. Fim de descrição.

Tecnologia combina impressão 3D e rotofiação para produzir um tubo poroso e resistente

O tubo foi projetado e impresso em impressora 3D. A solução polimérica é forçada a passar por pequenos orifícios de um reservatório que gira em alta velocidade. O solvente evapora rapidamente e são formados filamentos ultrafinos que formam uma estrutura contínua e porosa. 

“No conduto neural, essas fibras fornecem pistas topográficas que direcionam os neurônios, mantendo o alinhamento necessário para a reconexão funcional”, detalha Sartori. 

Fabricado com polímeros bioabsorvíveis, que se degradam naturalmente no organismo sem causar efeitos tóxicos, o conduto pode ainda ser incorporado com fármacos anti-inflamatórios, que regulam a inflamação após a lesão e favorecem a regeneração. Além disso, elimina a necessidade de retirar um segundo nervo do paciente.

“Isso reduz riscos de complicações, dor pós-operatória e tempo de tratamento, tornando a recuperação mais confortável, já que não há criação de uma nova ferida cirúrgica”, acrescenta a professora Laís.

Os testes físico-químicos foram realizados pela equipe da professor Laís, no LPol, e a caracterização biológica foi liderada por Augusto Ducati Luchessi, docente da FCA. A tecnologia teve ainda participação de Isabella Caroline Pereira Rodrigues e Karina Danielle Pereira, inventoras da FCA-Unicamp.

Proteção da tecnologia e próximos passos

Foto de uma mulher adulta, de jaleco branco e luvas azuis, manipulando uma pipeta em bancada de laboratório. À frente dela, há uma placa de cultura celular transparente e, no primeiro plano, parte de um microscópio. O fundo mostra prateleiras e equipamentos de pesquisa, em tons neutros e claros. A pesquisadora mantém o olhar concentrado na atividade. Fim de descrição.

Conduto é fabricado com material que se degrada naturalmente no organismo, sem causar efeitos tóxicos

A tecnologia foi projetada para tratar principalmente lesões em nervos periféricos sensoriais e motores, como os nervos digitais das mãos. Ainda em fase de testes laboratoriais, o grupo busca parcerias institucionais e empresariais para avançar para estudos pré-clínicos e regulatórios.

A proteção da invenção foi realizada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, com depósito de pedido de patente nacional junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e solicitação de proteção internacional por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT).

Além do potencial clínico, a iniciativa contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, ao buscar soluções menos invasivas para tratamentos médicos com foco em recuperação funcional e qualidade de vida.

Como licenciar uma tecnologia na Unicamp

A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica com perfis de patentes, programas de computador, cultivares e outras proteções. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, a partir de negociações com a Agência de Inovação Inova Unicamp. O contato com a Inova é realizado diretamente pelo formulário de conexão com empresas

A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias da Unicamp para as empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade em forma de soluções inovadoras. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova. E para encontrar os profissionais ideais para as necessidades do seu projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) com a Universidade, faça uma busca no Portfólio de Competências da Unicamp.

 

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