29 de outubro de 2025 Conduto neural desenvolvido na Unicamp acelera recuperação de nervos lesionados
Disponível para licenciamento, tecnologia combina impressão 3D, rotofiação e polímeros bioabsorvíveis, reduzindo a necessidade de cirurgias invasivas
Texto: Adriana Arruda – Inova Unicamp | Fotos: Igor Alisson – Inova Unicamp
Lesões em nervos periféricos, responsáveis por transmitir sinais entre cérebro, medula e músculos, representam um dos desafios mais complexos da medicina regenerativa. Elas podem resultar de cortes, traumas ou compressões, comprometendo funções como sensibilidade das mãos e movimento dos membros e tecidos do corpo. Embora o sistema nervoso periférico apresente certa capacidade de regeneração espontânea, ela é restrita a lacunas muito pequenas, inferiores a 5 milímetros.
Para falhas maiores, o procedimento mais utilizado é o autoenxerto, em que um nervo do próprio paciente é retirado para preencher a lacuna. Apesar de ser considerado o tratamento mais utilizado pela baixa chance de rejeição, o método pode exigir múltiplas cirurgias, causar perda de sensibilidade no local doador, risco de infecção e formação de neuromas (crescimentos anormais de tecido nervoso). Além disso, sua eficácia é menor em lesões extensas, acima de 5 centímetros.
Como alternativa a este cenário, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram condutos de guia neural, tubos porosos que funcionam como estruturas temporárias, orientando o crescimento dos nervos lesionados. Esses condutos criam um microambiente controlado, e permitem o transporte de oxigênio, nutrientes e remoção de resíduos, promovendo regeneração mais organizada.
O desenvolvimento da invenção foi liderado por Laís Pellizzer Gabriel, docente da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e coordenadora do Laboratório de Ciência e Tecnologia de Polímeros (LPol) da Unicamp, que orientou a dissertação de mestrado de Camila Sartori, a partir da qual a tecnologia foi originada.
“A ideia surgiu durante uma busca na literatura por scaffolds poliméricos (estruturas que servem de suporte para o crescimento celular) impressos em 3D. Assim que conheci o conceito de conduto neural, fiquei encantada com o seu potencial para contornar limitações dos tratamentos tradicionais”, contextualiza Sartori.
“Nosso objetivo foi criar uma alternativa viável ao autoenxerto em casos de falhas maiores, onde a regeneração espontânea do nervo já não é possível”, explica a professora Laís.
Uma alternativa de ponta para a regeneração
A tecnologia combina impressão 3D e rotofiação para produzir um tubo poroso e resistente, revestido internamente por fibras ultrafinas.

Tecnologia combina impressão 3D e rotofiação para produzir um tubo poroso e resistente
O tubo foi projetado e impresso em impressora 3D. A solução polimérica é forçada a passar por pequenos orifícios de um reservatório que gira em alta velocidade. O solvente evapora rapidamente e são formados filamentos ultrafinos que formam uma estrutura contínua e porosa.
“No conduto neural, essas fibras fornecem pistas topográficas que direcionam os neurônios, mantendo o alinhamento necessário para a reconexão funcional”, detalha Sartori.
Fabricado com polímeros bioabsorvíveis, que se degradam naturalmente no organismo sem causar efeitos tóxicos, o conduto pode ainda ser incorporado com fármacos anti-inflamatórios, que regulam a inflamação após a lesão e favorecem a regeneração. Além disso, elimina a necessidade de retirar um segundo nervo do paciente.
“Isso reduz riscos de complicações, dor pós-operatória e tempo de tratamento, tornando a recuperação mais confortável, já que não há criação de uma nova ferida cirúrgica”, acrescenta a professora Laís.
Os testes físico-químicos foram realizados pela equipe da professor Laís, no LPol, e a caracterização biológica foi liderada por Augusto Ducati Luchessi, docente da FCA. A tecnologia teve ainda participação de Isabella Caroline Pereira Rodrigues e Karina Danielle Pereira, inventoras da FCA-Unicamp.
Proteção da tecnologia e próximos passos

Conduto é fabricado com material que se degrada naturalmente no organismo, sem causar efeitos tóxicos
A tecnologia foi projetada para tratar principalmente lesões em nervos periféricos sensoriais e motores, como os nervos digitais das mãos. Ainda em fase de testes laboratoriais, o grupo busca parcerias institucionais e empresariais para avançar para estudos pré-clínicos e regulatórios.
A proteção da invenção foi realizada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, com depósito de pedido de patente nacional junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e solicitação de proteção internacional por meio do Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT).
Além do potencial clínico, a iniciativa contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, ao buscar soluções menos invasivas para tratamentos médicos com foco em recuperação funcional e qualidade de vida.
Como licenciar uma tecnologia na Unicamp
A Inova Unicamp disponibiliza no Portfólio de Tecnologias da Unicamp uma vitrine tecnológica com perfis de patentes, programas de computador, cultivares e outras proteções. Empresas e instituições públicas ou privadas podem licenciar a propriedade intelectual desenvolvida na Unicamp, com ou sem exclusividade, a partir de negociações com a Agência de Inovação Inova Unicamp. O contato com a Inova é realizado diretamente pelo formulário de conexão com empresas.
A Inova Unicamp também oferta ativamente as tecnologias da Unicamp para as empresas, com a intenção de que o conhecimento gerado na Universidade chegue ao mercado e à sociedade em forma de soluções inovadoras. Para conhecer outros casos de licenciamento de tecnologias da Unicamp acesse o site da Inova. E para encontrar os profissionais ideais para as necessidades do seu projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) com a Universidade, faça uma busca no Portfólio de Competências da Unicamp.