Correio Popular | Gel desenvolvido pela Unicamp acelera cicatrização em pacientes com câncer

Uma mulher loira de cabelos lisos, compridos e soltos, veste um jaleco branco de laboratório sobre uma blusa laranja e sorri levemente enquanto olha para a câmera. Ela está em um ambiente de pesquisa científica, cercada por bancadas de granito cinza, prateleiras brancas com frascos de vidro âmbar e equipamentos de laboratório. Com a mão direita, segura um recipiente transparente com várias folhas secas, e com a esquerda, exibe uma placa contendo uma substância avermelhada em gel. Ao fundo, é possível observar vidrarias, caixas e aparelhos típicos de laboratório. Fim da descrição.
Feito com extrato de planta nativa do Brasil, gel reduz em até duas vezes o tempo de recuperação da mucosite oral e pode chegar ao mercado nos próximos anos

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um gel cicatrizante capaz de acelerar a recuperação de pacientes oncológicos que sofrem com mucosite oral — inflamação comum em casos de cânceres de cabeça e pescoço e em transplantes de medula óssea. Testes clínicos realizados recentemente no Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas, e no HEMOAM, em Manaus, apontaram redução significativa no tempo de tratamento, o que levou à ampliação dos estudos.

O produto é resultado de uma pesquisa multidisciplinar coordenada pela professora Mary Ann Foglio, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp, e utiliza extratos padronizados da Arrabidaea chica Verlot, também conhecida como Fridericia chica L., planta nativa do Brasil com propriedades cicatrizantes.

A pesquisa teve início em 2003, com apoio da FAPESP, e acompanhou a variabilidade da espécie em diferentes regiões do país. A partir da padronização do extrato e da formulação mucoadesiva, o gel passou a ser testado clinicamente em pacientes oncológicos.

Segundo Foglio, o principal uso do produto tem sido o tratamento da mucosite oral, uma complicação frequente da quimioterapia e da radioterapia.

“Muitas vezes o paciente vai a óbito não pelo câncer em si, mas sim pela mucosite oral, que acarreta em outros problemas de saúde, até impedindo que o paciente se alimente”, explica a pesquisadora.

O gel desenvolvido na Unicamp permite uma recuperação entre dois e cinco dias, enquanto o tratamento convencional com laser pode levar até quinze dias.

“Essa redução no tempo de tratamento é muito importante, pois cada dia de um paciente oncológico faz toda a diferença. Quanto mais tempo com a ferida, mais o paciente está vulnerável”, acrescenta Foglio.

Com base nos resultados obtidos, o comitê de ética do Hospital de Clínicas aprovou um adendo que permite o uso do gel em todos os pacientes que desenvolverem mucosite oral após profilaxia com laser.

“Nosso objetivo é ampliar o acesso a uma alternativa eficiente, segura e menos invasiva para quem enfrenta o tratamento oncológico”, complementa Foglio.

Atualmente, o grupo trabalha para aprimorar a estabilidade do produto, buscando uma formulação que possa ser armazenada em temperatura ambiente — o que reduziria custos de transporte e viabilizaria sua produção em larga escala.

Mesmo em fase de testes, a tecnologia já foi licenciada para o Instituto Sociocultural Brasil China (Ibrachina), com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, que intermediou o processo e conectou a pesquisa ao setor produtivo.

“A Inova foi fundamental nesse processo, pois além de viabilizar a execução de um edital e seleção de projetos, também intermediou o licenciamento. A Agência tem sido uma parceira desde a entrada do CPDI no Parque da Unicamp”, ressalta Li Li Min, docente da Faculdade de Ciências Médicas e coordenador do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (CPDI) do Ibrachina.

Matéria originalmente publicada no site Correio Popular

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