Jornalista Inclusivo | Robótica assistiva da Unicamp amplia autonomia de pessoas com deficiência motora

Na imagem, há uma mão robótica sendo manseada dentro de um laboratório. Fim da descrição.
Em um país onde milhões de pessoas têm dificuldades de locomoção e manuseio de objetos, novas tecnologias buscam reduzir o esforço físico e mental em tarefas cotidianas.

Campinas (SP), 08 de outubro de 2025 – A robótica assistiva desenvolvida em universidades brasileiras representa uma esperança de mais autonomia e qualidade de vida para milhões de pessoas. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) criaram duas tecnologias inovadoras: um sistema de controle inteligente para cadeiras de rodas e uma prótese de mão que reconhece objetos.

As soluções, que agora buscam parceiros para chegar ao mercado através da Agência de Inovação Inova Unicamp, foram projetadas para simplificar a interação humano-máquina e responder a uma necessidade urgente no Brasil, onde, segundo o Censo 2022, 7,3% da população vive com alguma deficiência.

O Cenário da Deficiência Motora no Brasil: Um Desafio para Milhões

Os dados preliminares do Censo 2022, divulgados pelo IBGE, dimensionam a urgência de inovações como as desenvolvidas na Unicamp. No Brasil, 2,6% da população – o que representa mais de 5 milhões de pessoas – relatam ter grande dificuldade ou não conseguir de modo algum andar ou subir escadas. Além disso, 1,4% da população, ou quase 3 milhões de brasileiros, enfrentam desafios semelhantes para pegar pequenos objetos ou abrir garrafas. É para essa parcela significativa da população que a deficiência física impõe barreiras diárias que a tecnologia busca oferecer respostas concretas.

“Nossas pesquisas visam o desenvolvimento de plataformas de robótica para ajudar pessoas com deficiência física a recuperar parcialmente a execução de alguns movimentos perdidos. Nós procuramos melhorar as interações humano-prótese simplificando as interfaces entre o usuário e os dispositivos”, diz Eric Rohmer, professor e pesquisador da FEEC Unicamp.

Tecnologia para a Mobilidade: O Sistema de Controle para Cadeiras de Rodas

A primeira tecnologia é um sistema auxiliar de controle que pode ser acoplado a equipamentos móveis, como cadeiras de rodas motorizadas. Seu grande diferencial é a capacidade de atuar de forma semi-autônoma, antecipando as intenções do usuário e corrigindo a trajetória para evitar acidentes, o que proporciona mais segurança e precisão nos deslocamentos.

Como funciona a antecipação de movimentos e a prevenção de colisões

Por meio de sensores, o sistema mapeia o ambiente, detecta obstáculos e ajusta automaticamente a direção e a velocidade. “Quando incorporado a uma cadeira de rodas, o sistema oferece mais segurança e precisão nos movimentos do usuário”, detalha o professor Rohmer. Na prática, se o usuário tenta avançar em direção a uma parede, o sistema reduz a velocidade e corrige o ângulo, facilitando a navegação em ambientes complexos, como corredores estreitos ou locais com muitas barreiras. Isso reduz a carga mental e o esforço físico necessários para manobras precisas.

Inovação na Ponta dos Dedos: A Prótese de Mão Inteligente

A segunda inovação é uma prótese de mão inteligente, projetada para pessoas que sofreram amputações. Equipada com uma câmera, a prótese utiliza algoritmos de visão computacional para reconhecer objetos e antecipar o tipo de movimento necessário para manuseá-los, tornando seu uso muito mais intuitivo.

Visão computacional para simplificar o agarre de objetos

Diferente de muitas próteses que dependem de complexos sinais musculares (eletromiográficos) para controlar cada dedo, esta tecnologia simplifica o processo. “Por exemplo, o sistema é capaz de entender que o usuário deseja segurar uma caneca ou usar um mouse, então o dispositivo ‘visualiza’ como é o objeto que será manuseado, antecipa uma sugestão de movimento e o usuário só tem o trabalho de validá-la”, explica Rohmer. Essa abordagem otimiza a interação e resolve uma das maiores barreiras das próteses convencionais: a dificuldade de controle, que exige longo treinamento e pode ser frustrante.

O Objetivo Final: Reduzir a Carga Mental e Ampliar a Autonomia

Ambas as tecnologias compartilham um objetivo central: tornar a interação com dispositivos assistivos mais fluida e menos cansativa. “Além de mais autonomia de movimentos, elas podem, também, aumentar a precisão na execução de tarefas e realizar interações mais acessíveis e menos cansativas, reduzindo a quantidade de comandos e a carga mental para o usuário”, reforça o pesquisador. A equipe já trabalha em novas fases de desenvolvimento para agregar ainda mais funcionalidades e facilidades para pessoas com deficiência motora.

Do Laboratório para a Sociedade: O Caminho do Licenciamento

As duas tecnologias foram protegidas por patentes e estão disponíveis no Portfólio de Tecnologias da Unicamp  para licenciamento por empresas e instituições. Este é um passo crucial para que os protótipos acadêmicos possam ser aperfeiçoados, produzidos em escala e transformados em produtos acessíveis que cheguem efetivamente à sociedade, cumprindo a missão da universidade de gerar conhecimento que melhore a vida das pessoas.

Matéria originalmente publicada no site Jornalista Inclusivo

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