Patente desenvolvida na Unicamp é concedida nos EUA e Europa

Com foco nutricional, a micropartícula beneficiará a suinocultura

Texto: Carolina Octaviano

Foto: Thomaz Marostegan

Uma micropartícula composta por óleos essenciais de capim-limão e palmarosa que pode ser empregada como um aditivo nutricional às rações de suínos e que possibilita o controle de doenças ocasionadas por enterobactérias teve patente concedida no exterior e está chegando ao mercado norteamericano e europeu. A tecnologia permite substituir antimicrobianos sintéticos que são usualmente utilizados como promotores do crescimento animal.

Desenvolvida por pesquisadores do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, a micropartícula é uma tecnologia sustentável e desenvolvida de maneira natural. Em outras palavras, trata-se de um antimicrobiano que, ao ser adicionado à ração, promove o controle de doenças entéricas – como a colibacilose pós-desmame, entre outras, ocasionadas por bactérias presentes nas fezes dos animais -, além de proporcionar a melhora da saúde intestinal, fazendo com que o organismo absorva melhor os nutrientes.

A pesquisadora Marta Cristina Teixeira Duarte, coordenadora dos estudos, conta que há um grande interesse por parte desses mercados em absorver a tecnologia, uma vez que a prática da utilização de antibióticos como aditivos sintéticos na ração tem contribuído para o surgimento das chamadas superbactérias. “Vários dos aditivos utilizados para este fim são antibióticos prescritos para tratamento de infecções em humanos. Por descuido ou falta de cuidado nos sistemas de produção em pequena escala (porque nas grandes agroindústrias há maior controle) podem ocorrer resíduos desses antibióticos na carne dos animais (quando o abate dos animais não respeita o período de carência/retirada indicado em bula), e ao longo dos anos, propicia a resistência aos antimicrobianos em humanos através da cadeia alimentar”, explica.

Com foco na suinocultura, a tecnologia já passou por testes que comprovaram sua eficácia in vivo.  A pesquisadora comenta que, para a inserção em outros mercados, de novos produtos, à partir da tecnologia, é preciso que esta se adeque à legislação e às normas dos órgãos regulatórios locais. “Pode acontecer que para comercializar nesses países, tenhamos que registrar o produto nos órgãos reguladores locais, como FDA e EMEA, e que existam algumas exigências para as quais tenhamos que adaptar a tecnologia. Mas, não seria uma mudança na tecnologia em si e sim no produto oriundo da mesma”, comenta.

 

A patente teve sua estratégia de proteção definida pela Agência de Inovação Inova Unicamp, por meio da área de propriedade intelectual e, a área de parceria foi responsável pelo êxito do licenciamento em caráter exclusivo, em 2014, para a Ourofino Saúde Animal, cotitular da patente. “A concessão de patentes é o resultado de um trabalho técnico e especializado em propriedade intelectual de qualidade e permite que nossos ativos intangíveis sejam robustos favorecendo a transferência para a indústria”, afirma Patrícia Leal Gestic, diretora de propriedade intelectual.  A tecnologia contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Segundo a pesquisadora, a parceria entre a universidade e a empresa foi primordial para que a tecnologia fosse desenvolvida, assim como levada a outros países que têm interesse na sua utilização. Marta conta que o licenciamento da tecnologia e, agora, concessão no exterior é um fator de estímulo para o trabalho de docentes e pesquisadores da universidade, além de salientar a excelência da Unicamp em inovação tecnológica. “Isto comprova a viabilidade da parceria academia-empresa sem entraves burocráticos, o que é um ótimo estímulo para se buscar novos parceiros. O fato de ter sido concedida no exterior dá maior visibilidade de nossa capacitação técnico-científica”, avalia.  Para a diretora de parcerias e projetos colaborativos, Iara Regina Silva Ferreira, é importante que a Unicamp firme cada vez mais parcerias com empresas. “A Ouro Fino é uma empresa parceira com olhar estratégico para a inovação de seus produtos e mantém com a Unicamp um estreito relacionamento com os pesquisadores o que permitiu esta transferência de propriedade intelectual com sucesso”, aponta.

A tecnologia teve pedido de patente depositado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2012 e ao Tratado de Cooperação de Patentes (PCT) em 2013, antes de ser depositada e concedida na Europa e nos Estados Unidos. Também participaram do desenvolvimento da micropartícula os pesquisadores Glyn Mara Figueira, Rodney Alexandre Rodrigues, Benício Pereira, Mary Ann Foglio, João Ernesto de Carvalho e Ana Lúcia Tasca Góis Ruiz.

Confira a reportagem sobre o licenciamento aqui.