Nanotecnologia a favor dos solos

Nanotecnologia a favor dos solos

Nanocápsula desenvolvida pela Unesp e Unicamp pode aumentar a efi ciência no controle de pragas e minimizar a agressão aos solos

Por Kátia Kishi

Um dos problemas em se manter o cultivo sucessivo dos solos é a intensificação da proliferação de pragas propícias para o desenvolvimento de insetos, plantas daninhas e fungos que prejudicam a colheita. A situação se agrava ainda mais dependendo das condições climáticas de algumas regiões do Brasil, sendo que essas pragas afetam uma média de 7,7% da produção agrícola brasileira, o que equivale a 25 milhões de toneladas de alimentos não aproveitados junto a um prejuízo econômico da ordem de US$ 17,7 bilhões.

Esse cenário acaba induzindo o aumento de agrotóxicos, que causam diversos impactos ambientais, como o próprio aumento de resistência dessas pragas. A fi m de mitigar esses problemas com alternativas mais sustentáveis, o professor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Sorocaba e docente convidado em programa de pós-graduação do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB Unicamp), Leonardo Fraceto, conduz grupos de pesquisas na área com diversas instituições parceiras.

“Hoje em dia, ninguém domina todas as técnicas e a parceria entre bons grupos é a única forma de produzir tecnologias com potencial competitivo internacional”, ressalta a professora Eneida de Paula do IB sobre a parceria, que possibilitou uma invenção de cotitulariedade entre as universidades paulistas envolvendo um nanoherbicida menos agressivo aos solos, cuja autoria é de Fraceto com alunos de pós-graduação da Unesp e Unicamp.

No caso, trata-se de uma nanocápsula polimérica biodegradável com um núcleo oleoso que foi incorporado ao herbicida atrazina, conforme apresenta Fraceto: “O processo desenvolvido consiste em encapsular a atrazina em uma nanocápsula formada por uma estrutura oleosa e recoberta por uma parede polimérica estabilizada por um tensoativo (composto que mistura substâncias polares como água e óleo). Com esse sistema chamado de liberação sustentada, o herbicida pode ser liberado de forma lenta, possibilitando ser carreado”.

Segundo o professor, é importante um melhor manuseio da atrazina porque o herbicida é permitido e comumente utilizado na produção agrícola brasileira e norte-americana, apesar de ser proibido pela União Europeia devido ao seu impacto ambiental como contaminante de águas superficiais e subterrâneas. Nesse contexto, a nanocápsula se mostra como boa alternativa de uso, já que a tecnologia diminui a concentração de atrazina para obter o mesmo efeito de uma fórmula comercial utilizada hoje, sendo que “diminuir a atrazina significa minimizar os impactos ao ambiente e aumentar a segurança alimentar na produção agrícola”, defende.

Esse viés sustentável da tecnologia foi o que motivou a Ecodefense a licenciar a patente para ampliar os testes e colocar no mercado o herbicida, justifica Thomás Oehninger, um dos sócios da empresa: “Nosso grande diferencial é estar próximo dos produtores e entregar soluções que o auxiliem na condução de sua lavoura, respeitando o meio ambiente”.

A tecnologia está em fase de testes de laboratório pela empresa para o plantio de milho, que é uma das principais culturas do Brasil e enfrenta desafios como o controle de espécies invasoras resistentes. “Nesse sentido, a solução apresentada vem para trazer ao produtor uma ferramenta de manejo mais efetiva e com menor potencial de dano ao meio ambiente. Porém ainda há a necessidade de mais testes para entender melhor o comportamento da tecnologia na planta e no solo, de forma que sejam obtidos resultados mais conclusivos”, orientou o sócio da empresa licenciadora, que já adiantou ser intenção da Ecodenfense testar a tecnologia para outras culturas e moléculas em uma próxima fase.