Spin-off da Unicamp desenvolve potencial solução para uma frota automotiva mais sustentável

Imagem do microrreator capaz de produzir hidrogênio a partir do etanol em cima de uma mesa
A Vesta Green Tech é uma empresa-filha da Unicamp que nasceu a partir do licenciamento de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da FEQ Unicamp, um microrreator capaz de produzir hidrogênio a partir do etanol que pode ser embarcado no veículo, invento com potencial para alimentar motores elétricos com zero emissões líquidas de carbono.

Esta reportagem compõe a série Prêmio Inventores 2023

Texto: Christian Marra | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp

A indústria automobilística mundial corre em busca de uma nova solução para substituir os atuais motores a combustão, alimentados por combustíveis fósseis, que geram uma cadeia de consumo altamente agressiva ao ambiente. Muitos países optaram por políticas de estímulo ao uso de motores elétricos. Uma saída que, contudo, esbarra nos processos para geração de energia elétrica, nem sempre ambientalmente sustentáveis, e no grave problema do descarte de baterias.

Um combustível alternativo que tem sido estudado para alimentar os motores do futuro é o hidrogênio. Até o momento, o foco das pesquisas foi o uso do hidrogênio em estado gasoso, armazenado sob pressão em tanques nos veículos. Mas esta solução exige a implantação de uma ampla rede de abastecimento desse gás, e que ainda não encontrou viabilidade comercial, especialmente nos países de grandes dimensões territoriais.

Nessa corrida pelo uso de combustíveis sustentáveis com o objetivo de alcançar zero emissões líquidas de carbono (Net Zero), pesquisadores do Laboratório de Otimização, Projeto e Controle Avançado (LOPCA) da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (FEQ Unicamp) desenvolveram um reator químico compacto, um microrreator, capaz de produzir hidrogênio a partir do etanol. Ele pode ser embarcado em veículos e acoplado a células combustíveis para alimentar motores elétricos.

A tecnologia permite aproveitar o etanol do tanque do veículo para gerar o hidrogênio que vai alimentar o motor elétrico. Dessa forma, o invento pode permitir a fabricação de veículos elétricos abastecidos por etanol – uma solução extremamente oportuna e adaptada às condições do Brasil, um país rico em fontes renováveis, cenário bem distinto dos países que não dispõem dessa oferta.

A tecnologia, que foi patenteada na Unicamp com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, é uma possível aposta para reduzir a emissão do CO2 gerado por veículos automotores. O uso energético do hidrogênio resulta em energia e água, ou seja, resíduos que voltam para o ambiente na forma de vapor. O professor Rubens Maciel Filho, da FEQ Unicamp, assim explica o potencial desta tecnologia:

 “Estamos falando da possibilidade da produção de hidrogênio embarcado em veículos a partir do etanol. Esse hidrogênio pode alimentar as células combustíveis, possibilitando a eletrificação e a redução da emissão de CO2 para a atmosfera. Tudo isso de uma forma mais fácil e barata, usando uma tecnologia desenvolvida no país.”

Um microrreator impresso em 3D

O microrreator, projetado e construído na Unicamp, é um reformador com dimensões reduzidas. Ele tem o tamanho aproximado de um smartphone e seu núcleo, o coração do sistema, tem apenas cinco centímetros de comprimento. No interior do dispositivo, as reações químicas ocorrem em um espaço confinado. Ele se alimenta com o etanol de um lado e origina o hidrogênio do outro.

A tecnologia desenvolvida proporciona vários benefícios, como a intensificação dos processos, a maximização das transferências de calor e de massa e a possibilidade de realizar altas conversões em tempo curto. Maciel acrescenta que “devido a essas características, a eficiência e o controle das reações são melhorados, quando comparados aos reatores convencionais”.

Vale ainda destacar a forma de produção do microrreator. Suas placas apresentam uma malha de microcanais feitas por impressão 3D em dispositivos específicos para metais. A impressão 3D é altamente aplicável em diferentes áreas do setor industrial, sobretudo na produção de microssistemas. O design das partes internas exige uma arquitetura diferenciada, e dificilmente os processos convencionais de fabricação, como usinagem, fundição, conformação, entre outros, podem reproduzir. Este é um ponto que favorece a aplicação da tecnologia pela indústria.

Nasce a Vesta Greentech, uma spin-off da Unicamp

O potencial de aplicação desta tecnologia tem despertado a atenção de montadoras instaladas no país, como afirma o engenheiro Aulus Roberto Romão Bineli, um dos sócios-fundadores da Vesta Greentech, uma spin-off da Unicamp, fundada há exatamente um ano. A empresa foi criada pelos inventores para viabilizar a produção comercial dos reformadores (nome do conjunto de microrreatores de hidrogênio).

Quando a tecnologia da Unicamp foi divulgada no ano passado pela Inova Unicamp, ela alcançou uma ampla repercussão na mídia e atraiu os olhares da indústria. “Mas esses contatos ainda são  sigilosos, por enquanto não podemos anunciar mais detalhes”, comenta Bineli.

Além de Bineli, a Vesta Greentech também tem como sócios-fundadores o professor Rubens Maciel Filho, André Luiz Jardini, pesquisador da FEQ, e Luis Fernando Cassineli, engenheiro e CEO da empresa. Os inventores da tecnologia licenciaram a patente desenvolvida na Unicamp, com apoio da Inova Unicamp, e atualmente trabalham no desenvolvimento complementar da tecnologia, aprimorando-a em conformidade com a expectativa dos clientes. Bineli assim explica os procedimentos desta fase de adaptação:

“Tivemos uma etapa inicial de desenvolvimento mais acadêmico, mas a indústria enxerga a tecnologia com uma outra abordagem, ela exige vários fatores técnicos que precisam ser ajustados. Estamos finalizando um novo protótipo, mais avançado, que em breve estará apto a realizar testes operacionais”, comenta Bineli. 

Ele também explica que um dos fatores que motivaram a criação da Vesta Greentech foi o salto de eficiência energética que a nova tecnologia pode proporcionar, algo muito atraente às montadoras. “Os motores a combustão convencionais apresentam eficiência energética mais baixa, em torno de 15 a 20%. O uso da nova tecnologia pode permitir o desenvolvimento de veículos com eficiência entre 40 e 45%, com potencial de ser ainda maior. Enxergamos aí uma grande oportunidade”, detalha Bineli.

Outro detalhe da tecnologia que Bineli ressalta é o aumento da eficiência do etanol usado para alimentar o microrreator. Segundo ele, os testes não estão sendo realizados com o etanol anidro, comum nas bombas de combustível, mas sim com um tipo de etanol diluído em até 50%. “Com isso aumenta-se a eficiência do sistema e é reduzida a emissão de CO2 por quilômetro rodado”, acrescenta. Tudo isso reforça o potencial comercial desta tecnologia patenteada pela Unicamp, e que em breve poderá ser aplicada em testes com os veículos das montadoras instaladas no Brasil.  

PRÊMIO INVENTORES 2023

INVENTORES PREMIADOS NESTE LICENCIAMENTO:

Juliane Viganó, Julian Martinez, Márcio Lopes e Philipe dos Santos (FEA Unicamp) foram premiados na categoria Tecnologia Absorvida pelo Mercado no Prêmio Inventores 2023.

logo do Prêmio Inventores nas cores verde claro e azul. O desenho são duas cabeças que formam uma lâmpada e embaixo o texto Prêmio Inventores Unicamp

PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS

Esta reportagem integra a série de matérias elaboradas pela Inova Unicamp a respeito de algumas das tecnologias da Unicamp licenciadas. Você pode acessar esses conteúdos tanto através do site da Inova quanto em formato de ebook na Revista Prêmio Inventores. Assista ao Webinar “Negócios de base científica: Tecnologias da Unicamp na sociedade”, realizado em 13 de setembro.

Além disso, confira todos os premiados no site Prêmio Inventores 2023 da Unicamp.

Os patrocinadores do Prêmio Inventores 2023 são: ClarkeModetFM2S; Interfarma; e Antoniense