Tecnologia da Unicamp desenvolve moléculas inéditas, aplicáveis do setor cosmético ao tratamento de câncer

Tecnologia da Unicamp desenvolve moléculas inéditas, aplicáveis do setor cosmético ao tratamento de câncer

Texto por Thais Oliveira e Juliana Ewers

O interesse por inovação norteou a carreira da pesquisadora Rosa Biaggio, ex-aluna da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e, atualmente, empreendedora a partir de tecnologia desenvolvida durante seu doutorado na universidade. Foi essa vocação que a levou a assumir importantes posições em empresas na área de Pesquisa e Desenvolvimento, durante sua trajetória profissional.

Tendo esse perfil, ficar longe da academia não parecia uma possibilidade. E não foi. Escolheu fazer doutorado em Biotecnologia no Instituto de Química da Unicamp, onde foi orientada pelo professor Paulo Imamura, e desenvolveu moléculas naturais inéditas, através de Biocatálise, que lhe rendeu um depósito de patente, feito pela Agência de Inovação Inova Unicamp. Pela colaboração na pesquisa, a patente da Unicamp tem cotitularidade com a Univap (Universidade do Vale do Paraíba).

Entenda a tecnologia

O processo desenvolvido, aplicado a produtos naturais denominados terpenos, consiste em utilizar a matéria-prima natural como o Humuleno, o Cariofileno e também a Coronarina D, empregando enzima como catalisador e chegar à criação de moléculas inéditas a partir disso. O resultado são várias moléculas epoxidadas, entre elas o Humulenoperoxidiol, o Cariofilenoperoxidiol e o Epóxido de Coronarina D. Apesar de complexos os nomes, o que mais desperta o interesse são suas aplicações, pois podem resultar em produtos cosméticos, farmacêuticos e medicinais.

Esses compostos têm como características a atividade anti-inflamatória e de contenção à proliferação de maus agentes. Dito de outro modo: no caso de um tratamento de câncer, por exemplo, é necessária uma menor quantidade de compostos para matar as células cancerígenas – o que é benéfico para o paciente em tratamento. O produto, então, pode atuar substituindo os quimioterápicos existentes hoje no mercado.

“De acordo com algumas pesquisas bibliográficas que tenho feito, penso em fazer testes para verificar também a capacidade como antiviral. Assim, a aplicação poderia se estender aos tratamentos contra HIV e hepatite C, e também o Covid-19”, completa a pesquisadora.

Processo sustentável

Além dos ganhos com o produto final, o próprio processo já traz vantagens ao que existe hoje. Diferentemente do processo de catálise química convencional – que faz uso de compostos sintéticos e que, portanto, tem mais etapas –, a tecnologia propõe um processo mais enxuto, que consome menos energia, não forma subprodutos e se prova mais economicamente viável em escala industrial.

A tecnologia já foi testada in vitro, no CPQBA (Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) da Unicamp em testes antiproliferativos para câncer de próstata, de colorretal, de ovário resistente a múltiplos fármacos e leucemia. A próxima fase é evoluir para testes in vivo, ou seja, em animais. E, na sequência, para os testes clínicos: Fases 1, 2 e 3.

“Levar uma tecnologia dessa ao mercado não é tarefa simples. São muitas fases de teste e de tempo de laboratório e pesquisa. Empresas como as farmacêuticas têm muito interesse, mas só aceitam realizar projetos de P&D e investir nas tecnologias se os testes pré-clínicos estiverem finalizados”, reforça Rosa.

O projeto que virou negócio

Além do desenvolvimento da tecnologia, Rosa percebeu que o projeto tinha potencial para ir além das bancadas de laboratório e decidiu criar, em 2014, a sua própria empresa: a Sugarzyme.

Na busca por investidores que apostem em seu negócio, Rosa também tem levado a tecnologia a desafios e competições, nas áreas cosméticas e farmacêuticas. A empresa teve apoio do programa PIPE Empreendedor, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). E já foi classificada no Ranking 100 Open Startups por três anos consecutivos, desde 2017 até 2019, organizado pelo Movimento 100 Open Startups: 2º lugar na categoria Biotech em 2018 e 9º em 2019.