NITs do Estado de São Paulo compartilham mecanismos de articulação para inovação entre ICTs e empresas

Texto e fotos: Marina Nania

A Lei de Inovação federal, que define a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica nas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) públicas, lista entre suas competências a promoção e o acompanhamento do relacionamento entre as ICTs e empresas. De acordo com o relatório Formict, que contém informações sobre a Política de Propriedade Intelectual de ICTs de todo o Brasil, o total de Núcleos de Inovação que realizam atividades de relacionamento com empresas subiu em mais de 10% nos últimos três anos – as atividades eram implementadas em 55,2% dos NITs em 2013, e em 2016 chegam a 65,6%. Tendo esse relacionamento como foco, 51 profissionais do mercado e de instituições públicas se reuniram com o intuito de trocar experiências sobre os mecanismos de articulação possíveis entre ICTs e empresas. O encontro aconteceu na última reunião do Comitê de Boas Práticas Jurídicas da Rede Inova São Paulo.

Trazendo o ponto de vista empresarial sobre o tema, a advogada Cristina Assimakopoulos, do Comitê de Interação ICT-Empresa da ANPEI (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadora), explicou que o Comitê atua desde 2007 com o objetivo de promover a interação academia e empresa, através de encontros mensais, reuniões de visita a Centros de P&D e desenvolvimento de projetos estratégicos. Em seus 10 anos de atividades, observam-se como avanços o crescimento dos NITs, a institucionalização das políticas de inovação e segurança jurídica e o desenvolvimento de novos modelos de parceria em rede no Brasil. Entretanto, Cristina assinala que os principais gargalos ainda são o tempo gasto na articulação entre as instituições, as negociações dos termos dos contratos de cooperação, a falta de clareza nas instâncias internas de ICTs e a dificuldade na identificação das competências e estruturas disponíveis nas ICTs/Universidades. “Além de um escritório de patentes ou vendedor de tecnologias de prateleira, as empresas buscam no NIT um parceiro que articule o fluxo das tecnologias, dando suporte aos pesquisadores e auxiliando a transição dos processos acadêmicos aos negócios”, sintetiza.

O evento contou, ainda, com a experiência da Embraer, fabricante de aeronaves brasileira que atua nos segmentos de aviação executiva, comercial, agrícola, de defesa e de segurança, e uma das empresas mais inovadoras do país, de acordo com a Forbes. As palestrantes Ana Márcia Ramos e Rosely Caetano apresentaram um case de sucesso da empresa, proporcionado pela parceria com três ICTs, a Universidade Federal de Santa Cantarina (UFSC), a Universidade Estadual de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Dentre os frutos colhidos pela parceria, estão 9 contratos e termos aditivos na execução de um projeto de análise integrada de conforto e design de cabine de aeronaves. “Para projetos de alta complexidade como esse, é essencial o engajamento de pesquisadores motivados e um plano de trabalho bem elaborado, que leve em conta as expectativas de todos os envolvidos”, compartilha Ana Márcia.

Apresentando a realidade das ICTs, Mariana Zanatta, gerente do Parque Científico e Tecnológico e da Incubadora da Unicamp, conta que o Parque da Unicamp abriga um conjunto de áreas para instalações de empresas que buscam desenvolver tecnologias inovadoras, por meio do Convênio de Pesquisa com a Unicamp, além de empresas incubadas, startups, instituições do terceiro setor e organizações governamentais. “Uma empresa que se instala no Parque tem acesso à pesquisa de ponta desenvolvida na universidade, e conhece de perto os alunos da Unicamp, podendo participar de sua formação e, mais tarde, realizar captação de recursos humanos. É uma parceria que beneficia a empresa, a Universidade e a comunidade”, resume. Ela frisa ainda a importância da atuação das empresas incubadas na Incamp como forma de fortalecer o relacionamento entre empresa-universidade. “Muitas empresas que passaram pela Incamp são criadas com base em tecnologias desenvolvidas nos laboratórios da universidade”, conta.
Natália Cerize, pesquisadora do IPT, compartilhou a experiência da instituição na criação de um projeto colaborativo entre o Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Itehpec) e as empresas Natura, Grupo Boticário, Yamá e TheraSkin para o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica de nanoecapsulação. Fruto dessa parceria entre instituições públicas e privadas, projeto abrangeu as áreas de biotecnologia, nanotecnologia e microtecnologia, com base no modelo de inovação aberta. “Por trabalharmos em conjunto com parceiros que são concorrentes no mercado, o projeto foi dividido em duas etapas. A etapa pré-competitiva teve como objetivo o desenvolvimento da plataforma tecnológica de nanoencapsulação, enquanto a etapa individual foi sigilosa, uma vez que foram discutidos os ativos individuais de cada empresa, tendo como foco o produto final”, explica Natália.

Rede Inova São Paulo

O seminário sobre mecanismos de articulação para inovação entre ICTs e empresas faz parte das atividades do Comitê de Boas Práticas Jurídicas em Relações ICT-Empresa da Rede Inova São Paulo. Por meio de seminários e workshops, o comitê vem levantando diversas questões práticas sobre transferência de tecnologia e parcerias, com foco nas legislações federal e estadual atuais e nos instrumentos jurídicos relacionados. As discussões que acontecem nesses eventos serão base para a produção do Guia de Boas Práticas da Rede Inova São Paulo, que deverá ser lançado no final de 2017.

Fonte: Rede Inova São Paulo