Em parceria com empresa, pesquisa da Unicamp chega a sistema de tratamento de esgoto sustentável e compacto

Texto: Thais Oliveira
Foto: Pedro Amatuzzi

A gestão inteligente e o tratamento do esgoto com o mínimo de impacto ambiental são demandas crescentes da sociedade, não somente para grandes centros urbanos, mas também para áreas rurais. Com essa proposta, pesquisadores da Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura da Unicamp (FEC), em parceria com profissionais da empresa MarquesParizotto Engenharia, uniram esforços e desenvolveram uma unidade compacta e modular de tratamento de esgoto.

Cada módulo do sistema desenvolvido possui capacidade para tratar em média mil litros de esgoto e, caso seja necessário ampliar a capacidade de tratamento, há a possibilidade de montar um sistema de tratamento integrando mais módulos.

Com patente requerida pela Agência de Inovação Inova Unicamp junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a tecnologia foi licenciada pela empresa MarquesParizotto em caráter exclusivo e é composta por biofiltros ligados em paralelo, denominados de módulo de filtros, com entrada de esgoto bruto e uma saída de efluente tratado. Os biofiltros são formados por biomassa e vermes (minhocas), mas Marcelo Mareco, que é engenheiro ambiental na MarquesParizotto e também inventor da tecnologia, explica que a novidade não se trata do uso da técnica da vermifiltração, mas sim na configuração de um sistema que amplia sua aplicabilidade e potencialidade.

“A novidade é a criação de um sistema compacto, não dependente de superestruturas de alvenaria, de fácil instalação e operação. A técnica usada é simples, mas seu design é avançado e alinhado aos conceitos de sustentabilidade”, avalia Mareco.

A técnica de filtragem usada para decompor a matéria orgânica é baseada em uma combinação de fenômenos físicos e biológicos. As etapas de filtração, adsorção e degradação são realizadas por minhocas somadas a uma biomassa de bactérias, constantemente alimentada com as próprias bactérias do esgoto que no filtro se alocam. O tratamento do esgoto é totalmente sustentável, pois o que é produzido após a filtração – água tratada, húmus e minhocas –  pode ser reutilizado e o diferencial é a não produção de subprodutos como lodo. Para os inventores, a água de reúso pode ser aplicada em jardins, por exemplo, e o húmus, pode ser usado como fertilizante.

Da pesquisa à patente

A ideia da tecnologia surgiu quando Mareco, sócio fundador na empresa MarquesParizotto, se interessou pela ideia de obter um produto/sistema de tratamento de esgoto que fosse móvel, autônomo, eficiente e acessível. Assim, em 2015, entrou em contato com Francisco Madrid, que fazia mestrado na temática de saneamento na FEC, com orientação do prof. Adriano Luiz Tonetti. A princípio, a ideia era validar a hipótese de que a vermifiltração seria ideal para o produto.

Com a viabilização da técnica de filtração e a comprovação da capacidade de tratamento do sistema, o grupo submeteu o projeto ao PIPE Empreendedor, uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que fomenta que apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas. Com o apoio do PIPE, os inventores puderam fazer testes biológicos, que viabilizaram o depósito da patente e o desenvolvimento do modelo de negócio. De acordo com os inventores, a patente dá uma maior segurança para apresentar a tecnologia a outras empresas que tenham o interesse em também licenciá-la. O sistema de tratamento de esgoto ainda não foi comercializado, pois o modelo está em processo de consolidação.

Além do desejo de sublicenciar a tecnologia para outras empresas, Madrid, que atualmente é doutorando na FEC, destaca que a Unicamp é pioneira nos estudos e, portanto, ele e os demais inventores continuam pesquisando em parceria com a Universidade para disseminar a tecnologia no país. De acordo com o inventor, as pesquisas sobre a área de vermifiltração existem desde a década de 90, mas no Brasil só foram exploradas 20 anos depois.

“Apesar de existirem pesquisas na literatura da década de 90, demorou para que houvesse um desenvolvimento científico mais abrangente, só após 2010. Isso porque países com demanda de saneamento rural começaram a explorar o campo”, explicou o doutorando.