A busca por investimento: conheça a história de quatro empresas-filhas da Unicamp que captaram 6,5 milhões

Texto por Ana Paula Palazi

Foto via Unsplash

Quando o fundador da Libre, Calimério de Carvalho, decidiu que era hora de sair a procura de investidores, as alavancagens com capital próprio, o chamado bootstrapping, já comprometiam a saúde financeira da startup que trabalha no mercado de revenda de alimentos saudáveis e inclusivos

Criada em 2017, a partir da dificuldade de amigos encontrarem produtos para alimentações restritivas – sem glúten e lactose, por exemplo -, a Libre patinou por quase um ano até que seu criador, que é ex-aluno da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, percebesse uma lição importante no mundo dos negócios: sozinho não sustentaria o crescimento no setor de serviços e varejo. 

No fim de 2019, o empreendedor conseguiu um investidor anjo. O aporte, a partir de um fundo familiar de um amigo, injetou mais de meio milhão de reais na startup. Em questão de meses, a Libre viu seu valor de mercado subir de 1 para 7 milhões. “Hoje temos uma estrutura com capacidade produtiva dez vezes maior, temos um e-commerce, áreas mais estruturadas e uma carteira de clientes maior”, disse Calimério.

O investimento anjo é feito geralmente por empresários, executivos e profissionais liberais experientes que buscam diversificação de investimentos a partir do impulsionamento de boas ideias. No caso da Libre, o dinheiro chegou por meio de uma holding familiar de investimentos ligada ao próprio setor de alimentação. 

Com a experiência, Calimério conseguiu manter o faturamento durante a pandemia. Além do dinheiro, contatos e de um sócio, a startup conta agora com toda uma estrutura financeira, jurídica, de marketing e recursos humanos compartilhada a baixo custo. 

Vá sem medo

Para quem se pergunta como alcançar os investidores certos, dentro e fora do país, o  ex-aluno de física da Unicamp e sócio-fundador da  AZpop, Fernando Buglia, dá o caminho: destravar o medo de falar com as pessoas. “Os investidores estão muito mais propensos a ajudar do que a gente imagina, todos têm uma história valiosa de aprendizado para compartilhar e, mesmo quando não investem, podem fazer indicações e dar conselhos importantes”, conta. 

A startup, fundada em 2019, com o amigo Daniel Scocco, começou com um investidor anjo e acaba de receber um pré-seed internacional no valor de 300 mil dólares, o equivalente a 1,6 milhão de reais, depois de ser selecionada, entre mais de 500 empresas no mundo, para participar do programa de aceleração do Vale do Silício, Product Club, do antigo vice-presidente do Tinder, Jeff Morris.

O dinheiro será aplicado no desenvolvimento e na melhoria do produto buscando maior escalabilidade. O AZpop é um aplicativo que funciona como “páginas amarelas” do WhatsApp. Presente em mais de 500 cidades brasileiras, o app atingiu recentemente a marca de 700 mil downloads e a expectativa é fechar o ano com um faturamento de 600 mil reais. 

A opção de buscar capitalização de investidores estrangeiros se deu por dois motivos: além do câmbio favorável ao dólar, Fernando explica que nos Estados Unidos o contrato de investimentos permite apenas a troca por ativos da empresa. No Brasil, uma outra modalidade prevê a devolução dos valores, caso a startup não atinja as metas.

De forma geral, o capital ou fundo pré-semente (pré-seed, na nomenclatura internacional) é um investimento mais estruturado que o anjo e menor, em valores, em relação a um capital semente. Indicado para startups em fase inicial que precisam alavancar o desenvolvimento das tecnologias ou do modelo de negócio. 

Planejamento é tudo!

Receber um investimento é ter a certeza de que mais pessoas acreditam no seu potencial, mas ser apenas alguém com uma ideia não é suficiente para atrair investidores. O analista de crédito de risco formado em estatística pela Unicamp, Thiago Critter Chiliatto, fala da importância de se ter uma boa estratégia. 

“O sócio-investidor busca organização e dados que tragam confiança para a negociação. A ideia é algo simples, é preciso ter um plano detalhado e ainda demonstrar capacidade de execução”, afirma. 

Thiago não apenas conhece de perto o caminho e as dificuldades para alcançar a carteira de investidores e financiadores por sua experiência no setor bancário, como lançou com o sócio, Elber Laranja, a Antecipa Fácil, fintech que facilita o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas (PMEs). 

A plataforma aproxima investidores de quem precisa de capital de giro a partir da antecipação de recebíveis de notas fiscais por leilão digital. Desde o lançamento, toda a operação foi capitalizada com investimentos de terceiros. Na última rodada, durante a pandemia, a Antecipa Fácil captou R$2,5 milhões de um investidor privado. 

Nessa camada de investimento, chamada de semente ou seed, a solução proposta pela startup já está mais madura e os recursos aceleram o negócio para a próxima fase: posicionamento de mercado. Um dos setores privilegiado pela Antecipa Fácil foi, justamente, a área de marketing. A startup deve fechar o ano com uma movimentação de 80 milhões de reais, 25% a mais que em 2019.

Esteja conectado

Saber o momento certo de atrair investidores pode ser uma ciência não-exata. No ecossistema das startups, as mudanças acontecem de maneira veloz, ao mesmo tempo em que as negociações com investidores podem demorar meses. Se manter conectado ajuda a não perder o ponto e boas oportunidades para expandir os negócios.

Bruno Milaré de Macedo, ex-aluno de engenharia da computação e co-fundador da Fretadão, compara o processo de conquista do investidor ao de um romance. “É como um namoro: a gente se conhece, tem o primeiro contato, depois um vai querer saber mais sobre o outro. A conversa vai evoluindo, temos vários encontros, até que finalmente o pedido é aceito”. 

A startup de mobilidade que faz curadoria e gestão de linhas de transporte fretado levou quase um ano no processo de sondagem em busca de um venture capital. O capital empreendedor ou capital de risco é um investimento de longo prazo feito por fundos de investimentos mais robustos e que requerem uma governança maior, em troca de partes acionárias da empresa.

Mais do que a quantidade de zeros no cheque, os três sócios procuravam pelo dinheiro inteligente, equivalente em português para smart money. Com um modelo de negócios consolidado e uma empresa saudável financeiramente, a Fretadão buscava crescimento rápido e orientado, condensando seis anos de expansão em apenas um. 

O aporte de R$2 milhões pela Domo Invest, dos fundadores da Buscapé Brasil, permitiu escalar a operação saindo de 400 passageiros, em 2018, para 10 mil, em 2020. E mesmo na crise, o crescimento no faturamento foi expressivo: 300%. “Empreendedorismo é um desafio de muita responsabilidade, mas chegar ao escritório e ver mais pessoas trabalhando é recompensador”, finaliza Bruno.

Confira 5 dicas para alcançar um investimento de risco*

Honestidade – Não esconda dúvidas com o plano de negócio ou problemas que a empresa possa ter. A sinceridade passa confiança para os investidores.

Atenção aos detalhes – Tenha domínio dos dados e informações detalhadas sobre onde e como vai aportar o dinheiro, isso influencia na decisão do investidor. 

Exercite a paciência – Quem busca investimentos precisa saber que o processo de negociação pode demorar meses até o fechamento do contrato.

Esteja disponível – A procura, preparação e rodadas de apresentação em busca de capitalização podem consumir muito tempo do empreendedor.

Escalabilidade –  Investidores não buscam apenas boas ideias e retornos atrativos. Gostam de projetos que possam crescer de forma escalável.

*lista feita a partir da experiência dos empreendedores entrevistados