Tecnologia da Unicamp pode potencializar a expansão da TV digital no Brasil

Na fotografia estão sentados ao lado de uma televisão cheia de dados dois homens asiáticos. Um aparenta ter na faixa de 30 a 40 anos com cabelo curto preto e camisa social azul. O outro aparenta ter uns 70 anos, com cabelo grisalho e usa óculos de grau e camisa social bege clara. Fim da descrição.
logo do Prêmio Inventores nas cores verde claro e azul. O desenho são duas cabeças que formam uma lâmpada e embaixo o texto Prêmio Inventores UnicampA metodologia desenvolvida e protegida pela Unicamp diminui custos de transmissão do sinal de TV Digital no padrão tecnológico usado no país.

 Esta reportagem compõe a série Prêmio Inventores 2022 | Texto: Kátia Kishi | Foto: Felipe Christ – Inova Unicamp

Neste ano, a TV Brasil da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), rede de televisão pública aberta do país, irá se adequar ao novo modelo de transmissão que possibilita imagens e áudios em altas definições e maior interatividade com o público: o sinal de TV digital. Para ajudar nesse processo, a EBC contará com uma tecnologia desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e licenciada com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp pela empresa Anywave Communication Technologies.

Através da sua representante comercial chamada Phase, que comercializa seus equipamentos no Brasil, a binacional com sede nos Estados Unidos e na China ganhou a licitação para fornecer os transmissores de sinal digital à EBC com o algoritmo da Unicamp. Uma das principais vantagens da tecnologia licenciada sem exclusividade para a empresa está na possibilidade de embutir aos transmissores de sinal a função de compressão e descompressão de dados enviados para os satélites, assim, as emissoras poderão ocupar menos banda sem queda de qualidade do conteúdo, conforme explica o ex-aluno da Unicamp e um dos inventores da tecnologia, Cristiano Akamine, hoje coordenador do Laboratório de TV Digital da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Segundo Akamine, um dos problemas para a popularização do sinal de TV digital no Brasil é o custo da distribuição para as emissoras. Isso porque é necessário usar alguns MHz de banda no transponder de um satélite que distribuirá o sinal para todos os transmissores no território nacional, que por serem em alta definição ocupam mais banda e custam mais. Diante desse problema, durante sua pesquisa de doutorado na Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade Estadual de Campinas (FEEC Unicamp) com orientação do professor Yuzo Iano, o inventor colaborou junto a um grupo com o desenvolvimento da metodologia de remultiplexação de sinais:

“Uma forma de diminuir esses custos é comprimindo os dados antes de os enviar ao satélite. As antenas parabólicas que recebem os sinais vão descomprimir os dados antes de enviar para transmissores de TV digital, similar ao que fazemos em arquivos de computador comprimindo nos formatos ZIP e RAR. Isso é o que a nossa metodologia faz, mas exclusiva para a transmissão de sinal de TV digital no modelo usado no Brasil”, explica Akamine.

Apesar da TV digital ter sido introduzida no Brasil há 15 anos, esse tipo de transmissão ainda não atinge todo o país. Segundo dados do Ministério das Comunicações (MCom), ao lançar o programa Digitaliza Brasil, no ano passado, mais de 4 mil municípios brasileiros não concluíram a migração para o sinal digital, sendo que 1.638 desses municípios mantêm apenas transmissão via sinal analógico.

A meta do MCom é que o sinal de TV digital chegue para todo território brasileiro até dezembro de 2022. Para isso, o programa prevê a oferta de kits de adaptação para famílias de baixa renda que não possuírem aparelhos compatíveis com a recepção do sinal, mas ainda há a adaptação de algumas emissoras que usam a transmissão analógica adotarem o sinal digital, podendo ser a tecnologia da Unicamp uma solução adequada quando associada aos transmissores fornecidos por empresas licenciadas.

 

Expansão do sinal digital no mercado brasileiro

O Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre é uma versão modificada do padrão japonês chamado Integrated Services Digital Broadcasting – Terrestrial (ISDB-T) denominada de ISDB-TB. Esse mesmo sistema também foi adotado por outros países da América Latina e continente Africano, mas o mercado brasileiro tem uma particularidade que as fabricantes de transmissores tiveram que se adaptar: habilitar nos equipamentos a descompressão para abrir o sinal de TV digital enviado, conforme explica Sérgio Abramoff, diretor regional da Anywave Communication Technologies que recém-licenciou a tecnologia de descompressão de dados da Unicamp.

“Para o mercado brasileiro já tivemos que adaptar o transmissor por causa do padrão usado no Brasil, diferente dos usados nos Estados Unidos e na China. Mas vimos que aqui também há a necessidade de os transmissores adquiridos descompactarem os dados que algumas emissoras brasileiras compactam por ser mais barato no uso do satélite, o que não é comum em outros países que atendemos”, comenta o diretor regional.

De acordo com Abramoff, a empresa licenciada tem forte atuação em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) realizados em suas sedes nos Estados Unidos e na China. Mas para resolver a demanda do mercado brasileiro, foi mais vantajoso para a empresa licenciar a tecnologia da Unicamp do que desenvolver uma nova metodologia. Ele ainda explica que existem várias formas de codificar o sinal para comprimir os dados e, se a emissora usou uma chave de compressão de dados, é necessária a mesma chave para a descompressão. A diferença do algoritmo da Unicamp em relação a outros métodos é que se trata de uma “chave universal” que permite a abertura do sinal independente da forma que os dados foram comprimidos.

“Por isso, optamos pelo licenciamento dessa patente da Unicamp, otimizando uma tecnologia que já está madura. É um algoritmo já consolidado, testado, e que funciona bem para todos os padrões de compressão usados no Brasil. Isso poupou da Anywave o tempo e recurso financeiro de ter que desenvolver o seu próprio algoritmo para atender uma demanda nos transmissores vinda de algumas emissoras que já comprimem os dados para minimizar custos”, justifica Abramoff sobre o uso da tecnologia da Unicamp.

A patente da metodologia já foi concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para a Unicamp, com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, que é o órgão responsável pelo licenciamento não exclusivo da tecnologia às empresas interessadas. Para conhecer esse método da Unicamp e outras soluções, acesse o Portfólio de Tecnologias da Unicamp.

 

PRÊMIO INVENTORES 2022

logo do Prêmio Inventores nas cores verde claro e azul. O desenho são duas cabeças que formam uma lâmpada e embaixo o texto Prêmio Inventores UnicampINVENTORES PREMIADOS NESTE LICENCIAMENTO:

Prof. Yuzo Iano (FEEC Unicamp), Fernando Silvestre da Silva, Ana Lúcia Mendes Cruz Silvestre da Silva e Cristiano Akamine foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2022.

PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS

Essa matéria faz parte da série de reportagens produzida pela Inova Unicamp sobre algumas das tecnologias licenciadas, que podem ser lidas pelo site da Inova e também em formato ebook na Revista Prêmio Inventores (com lançamento previsto para junho). Também já está agendado um webinar com conteúdo sobre propriedade intelectual e transferência de tecnologia para o dia 08 de junho (inscrições abertas ao público geral).

Confira todos os premiados no site do Prêmio Inventores da Unicamp.

Os patrocinadores do Prêmio Inventores 2022 são: Pulse HubClarkeModet3M; e Neger Telecom