Laboratório especializado em autismo com atuação global é empresa-filha da Unicamp

Mão de uma pessoa com luva azul segurando um recipiente com um líquido azul em um laboratório. A imagem é ilustrativa aos exames de autismo. Fim da descrição.

Tismoo oferece testes genéticos que auxiliam o diagnóstico etiológico de autismo 

Texto: Caroline Roxo | Foto: Reprodução Pexels

A empresa Tismoo, que faz parte do ecossistema da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), oferece testes genéticos específicos para auxiliar no diagnóstico etiológico de pessoas com autismo no mundo todo. A startup, fundada no ano de 2015, possui clientes espalhados por vários países, com exames realizados nos Estados Unidos, México, Europa, América Latina entre outros.

“Somos o único laboratório do mundo especializado em testes genéticos dedicados exclusivamente para autismo e condições neurológicas correlatas, mesmo após mais de uma década de atuação. A nossa empresa vem crescendo a cada ano, aumentando o número de colaboradores, o faturamento e, o mais importante, pessoas que conseguem obter respostas da causa genética do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nascemos também para acelerar o processo de tornar acessível as descobertas científicas de genética do TEA para as pessoas da sociedade. Assim, cada vez mais, a Tismoo pode apoiar numa segunda camada do diagnóstico de pessoas com autismo”, afirma Roberto Herai, sócio-fundador da Tismoo e ex-aluno da Unicamp. 

Roberto Herai, Bacharel em Informática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), começou a sua trajetória na Unicamp por meio da pós-graduação. Quando o cientista de dados ingressou no mestrado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (FEEC), ele não imaginava que seria um empreendedor no campo da genética. Foi no doutorado, dentro do Departamento de Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia da Unicamp (IB), o momento em que fez transição na sua área de estudos, que o profissional começou a desenvolver pesquisas em sua futura área de atuação, em genética, biologia molecular e bioinformática. O contato com a futura Tismoo veio na sequência com o pós-doutorado de 4 anos, na Universidade da Califórnia San Diego (UCSD), nos Estados Unidos, quando conheceu um grupo de pessoas que já idealizavam a criação da empresa especializada em testes para autismo.

“O convite para entrar na sociedade da Tismoo veio do meu supervisor de pós-doutorado, depois que já havia desenvolvido expertise em análises de dados genéticos de pacientes e também por ter encontrado resultados promissores de mutações genéticas relacionadas com o autismo”, conta Herai. 

Nascida da necessidade de seu próprio investidor 

A startup foi fundada por sete pessoas de áreas correlatas, entre elas, estava também Alysson Muotri, outro ex-aluno da Unicamp, formado em biologia pelo Instituto de Biologia da Unicamp (IB). Os sócios-fundadores, além da experiência e atuação na área de genética e biologia molecular, também identificaram um potencial de mercado, visto que até a existência da Tismoo, “não havia nenhum laboratório dedicado ao diagnóstico etiológico dos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) e condições neurológicas correlatas”, conta Herai. 

A importância da existência desses testes se dá pelo alto número de pessoas autistas no mundo. Dados recentes de incidência de TEA indicam que, atualmente, uma em cada 44 crianças de oito anos de idade seja diagnosticada com TEA. Os dados são do Centers for Desease Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos. Conforme esses números do CDC, é possível que só o Brasil apresente oito milhões de autistas, considerando que o país possui cerca de 200 milhões de habitantes. 

O financiamento para a criação da startup Tismoo foi possibilitado por um investidor anjo privado que apostou na Tismoo por acreditar no negócio, além de motivações pessoais. Ele possui um familiar com o diagnóstico de uma síndrome neurológica rara, similar ao autismo, e buscava testes mais específicos que pudessem auxiliar os médicos no diagnóstico e em direcionar o tratamento. Então, juntou-se a um grupo de cientistas especialistas em genética molecular de TEA e realizou um investimento inicial necessário para a estruturação e o desenvolvimento da Tismoo, e, hoje, a empresa-filha da Unicamp atua no mercado nacional e internacional.    

Como solicitar e realizar o teste de autismo? 

Os testes precisam ser solicitados a partir de um pedido médico. Esse pedido pode ser feito por profissionais de qualquer lugar do mundo. Os testes disponíveis para solicitação são: genoma completo, exoma, array CGH. Após o documento médico com a solicitação e esclarecimento de qual tipo de teste será, a pessoa deve encaminhar esse pedido para a empresa e fazer a compra do exame pelo site da Tismoo por sistema de self-service ou pelo canal de atendimento. O cliente recebe, em casa, um kit de coleta de saliva, contendo todas as informações sobre a coleta como também um vídeo explicativo. Depois, basta enviar a amostra coletada por correio para a Tismoo e aguardar o envio do resultado do exame genético por e-mail. 

“A escolha da saliva foi feita não só para atender demandas de nível nacional e internacional, mas também para atender questões peculiares ao autismo, como o fato de não necessitar locomover-se ao laboratório para fazer a coleta da amostra, que atualmente pode ser feita pelos pais ou cuidadores do paciente”, explica Herai. 

Essa praticidade e facilidade em solicitar e realizar o teste que apoia o diagnóstico do autismo permite que os pacientes saibam qual é a mutação e, com isso, dependendo do tipo de variante genética, podem ser indicados tratamentos personalizados. Para Herai, ainda que a empresa esteja trabalhando a comunicação dos benefícios cada vez mais intensamente, muitos médicos ainda desconhecem os benefícios que os estudos genéticos podem oferecer aos pacientes.

“Pesquisas recentes indicam que em 30% dos casos um exame genético pode mudar condutas terapêuticas e medicamentosas e em 80% podem auxiliar no aconselhamento genético reprodutivo, porém apenas 17% dos médicos indicam esses testes. As pesquisas também consideram diferentes contextos, como etnia, localização, tamanho dos estudos, etc”, explica o especialista em genética, e doutor em biologia molecular, Roberto Herai.