Uma fintech com um modelo de crédito inovador e apelo à inclusão

Dois homens brancos usando camisa preta escrito "Vister", nome da marca que está no fundo da imagem, Uma fintech com um modelo de crédito inovador
A Vister, uma startup fundada por dois ex-alunos do Instituto de Economia da Unicamp, é uma fintech que oferece um sistema de pagamentos inovador, com vantagens tanto a pequenos e médios comerciantes quanto aos consumidores. 

Esta matéria faz parte da série de reportagens produzidas pela Inova sobre as empresas que compõem o ecossistema empreendedor da Unicamp. Saiba que tipos de empresas podem integrar esse ecossistema e como se cadastrar na página de Vivência Empreendedora

Texto: Christian Marra  | Foto: Foto de divulgação

A cada venda efetuada no cartão de crédito, os micros, pequenos e médios comerciantes desembolsam uma taxa considerável às operadoras de cartão e ainda precisam esperar alguns dias até o dinheiro cair efetivamente na conta. Não é à toa que muitos deles preferem oferecer descontos a quem pode fazer compras à vista.

Contudo, nem sempre o consumidor tem recursos para usar o cartão de débito, PIX ou dinheiro e aproveitar os descontos. Assim, eles são obrigados a usar a maquininha do cartão de crédito, pagando um pouco mais caro em cada compra.

Atentos a esses problemas nas duas pontas do negócio, dois ex-alunos de graduação do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE Unicamp), Daniel Branco e Fausto Abramides, fundaram em 2021 a Vister, uma fintech com uma proposta inovadora: oferecer uma solução de pagamentos que remunera imediatamente aos comerciantes, via PIX, todas as compras feitas no modelo pós-pago – com uma taxa inferior às das grandes operadoras – e que permite ao consumidor fazer compras pelo preço à vista (que é mais barato), porém usando um aplicativo de cartão de crédito, com uma data futura para pagar o boleto.

Homem com camisa branca e blusa azul por cima, ao lado de uma tela com um logo com fundo preto escrito Vister em amarelo

Como funciona o seu sistema de pagamentos

Sediada em Santos (SP), a empresa já oferece com sucesso esse serviço ao longo dos últimos anos, sobretudo junto a pequenos comércios locais. Daniel Branco comenta que o surgimento do PIX foi essencial para tornar viável esse modelo de negócio:

“Quando alguém faz uma compra usando o aplicativo da Vister, o vendedor recebe em menos de 24 horas, via PIX, o valor da compra; e o consumidor só vai pagar no dia que fechar a sua fatura, alguns dias depois, com uma taxa bem pequena se comparada às altas taxas das operadoras das maquininhas de crédito. Para o consumidor, é como se ele pagasse ‘à vista no crédito’. E para o comerciante, é como se ele sempre vendesse à vista. Isso só se tornou possível com o surgimento do PIX”, explica Branco.

Ao comprar de pequenos comerciantes, o consumidor é beneficiado por pagar um valor com desconto. É comum encontrar produtos vendidos com preço mais baixo nas compras à vista ou via PIX. Quem usa a Vister, sempre paga pelo valor menor – mesmo que a sua fatura só vença vários dias depois.

“Seja o seu próprio banco”, é a proposta da empresa-filha da Unicamp

Ele também explica que a Vister é uma bandeira própria de crédito. A fintech não tem relação alguma com as grandes bandeiras de cartões. “Na verdade, tem, mas isso é uma brincadeira: o nome ‘Vister’ é uma mistura dos nomes ‘Visa’ e ‘Master’. Mas é só isso. A Vister é uma bandeira própria, a gente excluiu as grandes bandeiras, excluímos as maquininhas, excluímos até os cartões de plástico. Somos totalmente independentes”, comenta Branco.

Mas, se a Vister é uma bandeira independente de crédito, ela precisa ter um enorme volume de recursos para conceder crédito? “Não, não precisamos”, explica Branco. “Somos uma empresa de crédito P2P (de pessoas para pessoas). Na Vister, tanto pessoas físicas quanto pequenas empresas podem ser os agentes de crédito. Eles oferecem o sistema da Vister a quem eles desejam. Assim, quem tem um volume pequeno de recursos guardados, pode atuar como um agente de crédito. Por isso dizemos que somos um marketplace de crédito, ou mesmo um ‘Uber’ de crédito. Aplicamos o conceito de ’people as a bank’. Somos apenas os intermediários, e remuneramos os credores com taxas mais vantajosas do que muitas aplicações financeiras. É um modelo realmente inovador”, conclui.

Empoderamento do pequeno consumidor

A inclusão de pequenos comerciantes e consumidores no sistema financeiro é uma das missões que está no DNA da Vister. É o que explica Fausto Abramides, também sócio da empresa-filha da Unicamp: “aplicamos o conceito de ’people as a bank’ porque acreditamos que o nosso modelo de análise de risco é muito mais inclusivo. Hoje em dia, temos o conceito de que quem dá crédito é banco. Nós visamos uma desintermediação financeira dos bancos, o que permite às pessoas fugir das altas taxas que os bancos cobram. Isso quando concedem o crédito, o que nem sempre acontece”, comenta. 

Ele ainda explica que “pessoas de baixa renda são ótimas pagadoras, a experiência mostra isso. Mas elas são injustamente classificadas como consumidores de alto risco, muitas vezes por conta do CEP onde residem. Por isso, o crédito para elas é muito mais caro, muitos bancos não querem atendê-las. Nosso modelo de análise de risco de crédito é muito mais avançado e realista que o modelo tradicional dos bancos, ele não se apoia apenas em variáveis econômicas. Por isso dizemos que nosso modelo visa o empoderamento dos pequenos consumidores”, completa Abramides.

Ele também explica que a experiência da Vister permite aprimorar, com o tempo, o algoritmo de análise de risco de crédito. A empresa possui um projeto de desenvolvimento desse algoritmo e está em busca de recursos para patrociná-lo. Branco e Abramides planejam que esse projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) seja realizado na Unicamp, com apoio de instituições como a FAPESP. “Temos um vínculo emocional com a Unicamp”, afirma Branco. “Nós nos conhecemos aqui e sabemos que essa universidade é o lugar ideal para propagar o nosso modelo inovador e inclusivo”.

Busca por investidores

Branco comenta que, no atual estágio, a Vister está em busca de investidores para escalar o modelo de negócio. “Já fomos classificados para a 2ª fase de aceleração do capital empreendedor do Sebrae e fomos uma das 15 empresas escolhidas para participar do EmbraturLab, uma iniciativa dessa agência para destacar soluções inovadoras na promoção do turismo no país – e a solução da Vister é extremamente prática para estrangeiros que vêm ao Brasil. Em paralelo, a Vister já possui uma carteira de parceiros, especialmente em Santos, onde está nossa sede, e o nosso modelo de crédito tem se revelado eficiente. Resta agora encontrarmos investidores para escalar nossa atuação”, conclui.

Ecossistema empreendedor da Unicamp

Um dos ecossistemas empreendedores que a Lenscope faz parte é o Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicampque produz conteúdo (como esta matéria) e eventos reunindo as empresas-filhas da Universidade.

Podem compor ao ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade, tais como alunos, ex-alunos, docentes e funcionários ou ex-funcionários. Além de startups que foram incubadas na Incamp ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na Universidade, as chamadas empresas spin-off.

A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito, acesse e faça parte em: https://www.inova.unicamp.br/cadastro-filhas/