Webinar da Inova promove debate sobre a aplicação de tecnologias da Unicamp na sociedade

Tela do Meet com os respectivos organizadores, palestrantes e patrocinadores
O desafio de levar as pesquisas dos laboratórios à sua aplicação no mercado foi o tema do encontro virtual que reuniu especialistas, pesquisadores e integrantes de empresas-filhas da Unicamp.

Texto: Christian Marra | Fotos: Divulgação Inova Unicamp

Na semana em que a Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Inova Unicamp) premiou 82 pesquisadores da Universidade pelos seus esforços em proteger suas invenções e trabalhar pela sua absorção pelo mercado, o desafio e a importância de transferir os resultados da pesquisa científica à sociedade foi o tema de um debate virtual promovido pela Agência, realizado no último dia 13 de setembro.

O webinar, moderado pela supervisora de comunicação da Inova Unicamp, Kátia Kishi, reuniu especialistas da Agência, inventores e representantes de empresas-filhas da Unicamp. Nos diálogos, eles compartilharam suas estratégias de divulgação e de criação de parcerias voltadas à geração de novos negócios fundamentados na pesquisa científica.

A professora Ana Frattini, diretora-executiva da Inova Unicamp, abriu o debate e apresentou as várias iniciativas da Inova Unicamp para estimular a proteção da propriedade intelectual e o processo de transferência ao mercado das pesquisas realizadas na Universidade, de modo a ampliar o impacto do ensino, da pesquisa e da extensão em favor do desenvolvimento socioeconômico do país.

Nesse sentido, ela comemorou o volume recorde de recursos acumulados em convênios de pesquisa celebrados entre a Unicamp e empresas parceiras ao longo de 2022, que totalizaram R$ 249 milhões, distribuídos entre 73 convênios – um aumento de 244% em relação a 2021.

Frattini também convidou os pesquisadores e docentes da Unicamp que desejam firmar projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em parceria com empresas a se cadastrarem no Portfólio de Competências. Esta plataforma on-line foi desenvolvida pela Agência para localizar facilmente os interesses da comunidade Unicamp em firmar parcerias com o setor empresarial. Nesse Portfólio, basta fazer uma pesquisa por palavras-chave, por área de atuação ou pela unidade da Unicamp para encontrar os pesquisadores cujo perfil melhor se identifica com o tema do projeto.

 

Uma orientação para elevar o volume de patentes da Unicamp no INPI

Frattini também destacou um importante dado relacionado ao total de depósitos de patentes da Unicamp no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). De acordo com os números monitorados pela Inova, nos anos de 2021 e 2022, esses totais foram de, respectivamente, 47 e 32. Para elevar esse índice, a equipe da Inova iniciou uma campanha para orientar os pesquisadores a prestarem atenção no prazo entre a publicação de seus trabalhos e pedido de proteção da patente, conforme ela explica:

“Todo pesquisador tem que saber de antemão que, se ele fizer qualquer comunicação pública de sua pesquisa – uma divulgação de sua tese ou participação em um congresso –, nós temos um período de um ano, a contar a partir dessa divulgação, para tramitar o depósito da patente no INPI. E, muitas vezes, esse prazo é curto, há o risco de se perder o prazo para registro se não houver atenção a esse ponto”, comenta Frattini.

Por isso, a Inova iniciou uma campanha de conscientização junto aos pesquisadores sobre a importância de comunicar a invenção dentro do prazo e antes de torná-la pública, de modo a assegurar a proteção de sua pesquisa antes que isso se torne inviável. Além espalhar banners explicativos pelo campus de Campinas, a Inova está percorrendo as unidades de ensino e pesquisa para agendar os eventos “Inova nas Unidades”, encontros em que a equipe da Inova estará presente para apoiar a unidade em suas dúvidas sobre a proteção da propriedade intelectual, como Frattini detalha:

“Um pesquisador pode ter dúvidas como: ‘publiquei uma pesquisa há seis meses, dá tempo de patentear?’ ‘É possível fazer uma defesa sob sigilo para não tornar minha pesquisa pública?’ ‘Protejo a minha pesquisa ou publico?’ As dúvidas são variadas, e nós explicamos: primeiro você protege, depois você publica. Ou faça a sua defesa sob sigilo para imediatamente depois tentar proteger e depois publicar. Todos esses conceitos precisam ser explicados para se criar uma cultura de proteção da propriedade intelectual na Unicamp”.

Para disseminar os conceitos de propriedade intelectual, a Inova também lançou durante o webinar  o Guia  das Invenções da Unicamp (https://materiais.inovaunicamp.org/guia-das-invencoes), um material destinado a todos docentes, pesquisadores e alunos da comunidade da Universidade, para que compreendam a sua importância e quais são os passos para a proteção de uma tecnologia desenvolvida na Unicamp ou em parceria com a Universidade.

Incentivar a cultura de proteção de tecnologias no Brasil

Cláudio Castanheira, diretor geral da ClarkeModet Brasil – uma das empresas patrocinadoras do Prêmio Inventores Inova Unicamp –, também participou do webinar e apresentou números que mostram uma ainda baixa média de registros de patentes no Brasil.

Ao contrário do registro de marcas, índice no qual o país alcança um volume expressivo em comparação com outros países (foi o segundo no ranking mundial em 2021, abaixo apenas da China), no campo do depósito de patentes o Brasil possui uma média bem inferior ao das principais economias globais – o país é apenas o 13º entre eles, com uma média distante das nações líderes.

“Esse baixo índice proporcional de depósito de patentes é preocupante. Ele indica que a excelência científica das universidades, que são os principais centros de pesquisa do país, é perdida na hora de ir ao mercado ou de se capturar valor às pesquisas desenvolvidas. Por isso, todo tipo de incentivo ao depósito de patentes no Brasil deve ser muito bem recebido”, afirma Castanheira.

Ele também apresentou números relacionados às dificuldades estruturais para o estímulo da inovação no país. Mas, apesar do Brasil ainda apresentar indicadores distantes das economias mais ricas, o país tem melhorado aos poucos o seu posicionamento global em termos de infraestrutura para a inovação, produção tecnológica e de conhecimento, produção criativa, capital humano, sofisticação do mercado e do ambiente de negócios, entre outros.

Por fim, Castanheira também apresentou um exemplo dos Estados Unidos que ressalta o quanto é importante que startups protejam as suas invenções para se tornarem mais atraentes a investidores. Ele apresentou números de demonstram que, nesse país, a maior parte dos investimentos em Venture Capital para startups (capitais de risco destinados a investimentos em empresas visando um retorno mais elevado) é destinado àquelas que protegem os seus diferenciais tecnológicos.

Segundo Castanheira, “os números desses estudos reforçam a importância de proteger as tecnologias desenvolvidas. O volume de aporte de recursos em startups é maior quando elas têm a preocupação de proteger os seus diferenciais tecnológicos.” Quando isso é realizado, os valores das empresas ficam mais protegidos e isso diminui o risco para os investidores, o que aumenta sua atratividade.

Uma parceria de sucesso com a Unicamp

O webinar foi enriquecido com a participação de Eduardo Aledo, um dos sócios fundadores da Rubian Extratos, empresa-filha da Unicamp que colocou no mercado um produto gerado a partir de duas tecnologias licenciadas da Universidade. A Rubian nasceu da competição Desafio Unicamp, organizada pela Inova, e tem uma trajetória marcada por parcerias de pesquisas com a Unicamp, cujos resultados já se traduziram em produtos disponíveis no mercado ao longo dos últimos anos. A empresa completou, portanto, todo o ciclo da inovação de mãos dadas com a Universidade.

A Rubian desenvolve e produz extratos vegetais ricos em bioativos, que são usados como insumos na fabricação de produtos da indústria cosmética, de alimentos e nutracêutica (fabricante de suplementos alimentares e de alimentos que previnem doenças). Seus principais extratos são elaborados a partir do maracujá, da jabuticaba, do urucum e do lúpulo.

A Rubian Extratos atua sobretudo no ramo B2B (Business to Business) como fornecedora desses insumos, que se destacam pela sua qualidade superior. Segundo Aledo, isso só é possível em virtude dos contínuos investimentos em pesquisa, em parceria com a Unicamp e com outras instituições, que resultam em bioativos com um patamar de qualidade incomum no mercado:

“Os produtos que oferecemos são desenvolvidos após muita pesquisa científica e exaustivos testes. E essa base em dados científicos atesta a nossa credibilidade e garante mais segurança aos nossos clientes. No mercado, existem empresas de extratos com uma variedade enorme em seu menu de produtos. Mas estão longe de ter a mesma profundidade científica nós buscamos alcançar. Assim trabalhamos com bioativos mais seletivos e que conseguem preservar melhor as propriedades originais das matrizes e sementes, o que garante um desempenho superior”, explica Aledo.

Uma spin-off recém-criada com foco em energias renováveis

O engenheiro Aulus Roberto Romão Bineli finalizou as apresentações do webinar narrando o caso da Vesta Greentech, uma spin-off da Unicamp fundada há exatamente um ano, empresa da qual ele é um dos quatro sócios-fundadores. O projeto começou há vários anos, quando pesquisadores da Faculdade de Engenharia Química (FEQ – Unicamp) desenvolveram um microrreator químico compacto capaz de produzir hidrogênio a partir do etanol.

Com ele, é possível aproveitar o etanol do tanque de um veículo para gerar hidrogênio e assim alimentar um motor elétrico, ou seja, trata-se de uma invenção capaz de permitir a fabricação de veículos elétricos abastecidos por etanol. A invenção, que contou com apoio da Inova Unicamp tanto em sua proteção quanto em sua divulgação, despertou o interesse de montadoras automobilísticas instaladas no Brasil.

“Recebemos muitos contatos de empresas interessadas na tecnologia, o que nos motivou a desenvolvê-la ainda mais. Mas, ao mesmo tempo, constatamos várias questões entre o que a tecnologia propõe e o que o mercado espera dela. Às vezes há uma distinção muito grande entre a pesquisa e a sua inserção no mercado. Havia a necessidade de adequá-la para entregar uma tecnologia com as características desejadas pelas empresas”, explica Bineli.

Foi nesse momento que os pesquisadores enfrentaram o dilema: esperar o interesse do mercado ou criar uma startup, com base na confiança no potencial do invento desenvolvido? Foi apostando nessa confiança que nasceu a Vesta Greentech, uma startup focada atualmente no desenvolvimento complementar da tecnologia, aprimorando-a conforme a expectativa dos potenciais clientes. Como afirma Bineli, “agora estamos finalizando um novo protótipo, mais avançado, que em breve estará apto a realizar testes operacionais junto às empresas interessadas.”

Na parte final do webinar, o público enviou questões que foram debatidas entre os palestrantes, ao lado de Iara Ferreira, coordenadora de Negócios e Inovação da Inova Unicamp, que se juntou a eles. A íntegra do webinar pode ser assistida no canal do YouTube da Inova Unicamp. (https://www.youtube.com/watch?v=XT2lvhtSSI4)