Unicamp se equipara a universidades americanas em parcerias com empresas

Levantamento foi tema de debate em um dos webinars de comemoração do Prêmio Inventores da Unicamp 2020

Por Kátia Kishi

Contrapondo o mito sobre a dificuldade ou a falta de relacionamento universidade-empresa no que tange o investimento em pesquisas colaborativas no Brasil, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) comprova em seus indicadores de desempenho que está no mesmo nível de interações que as universidades norte-americanas, normalmente destacadas como exemplos mundiais de interação de pesquisa entre o setor empresarial e acadêmico.

Esse levantamento foi apresentado pelo professor Carlos Henrique Brito Cruz do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp, que também foi reitor da Universidade e diretor científico da FAPESP, durante a mesa de debate virtual sobre o relacionamento de pesquisa entre a Universidade e empresas no Brasil e no mundo, organizada pela Agência de Inovação da Unicamp no escopo das comemorações do Prêmio Inventores deste ano. Em seu mapeamento, Brito Cruz identificou que a média de interação universidade-empresa nos Estados Unidos resultou em uma média de 8% do total de investimento oriundo do setor empresarial recebido pelas 20 principais universidades dos Estados Unidos em 2016.

No mesmo ano, mais de 10% dos recursos para pesquisa da Unicamp foram resultados de parcerias com as empresas, ou seja, se a Unicamp estivesse competindo no mesmo ranking que as americanas, liderado pela Universidade de Duke e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ela ocuparia o sexto lugar entre as universidades que mais firmam projetos colaborativos com o setor empresarial, a frente de instituições como Stanford e Berkeley.

 

A Unicamp apareceria em sexto lugar nesse ranking

 

“Isso derruba o mito de que no Brasil há pouca interação entre universidade-empresa, que em média, no estado de São Paulo, é maior que 10%. Não quer dizer que está bom, mas temos que entender que as universidades sabem interagir com as empresas, agora precisamos subir em escala. Em nível Brasil, o que vejo ser um problema de gestão é que a maioria das universidades brasileiras não fazem esse acompanhamento. E se você não tem indicadores, você não consegue melhorar.”, analisou Brito Cruz sobre os diferentes cenários de interação.

O mesmo posicionamento também foi defendido pelo professor Newton Frateschi, diretor-executivo da Inova Unicamp, que também compôs a mesa de debate:

“Vemos que muitos pesquisadores ou empresas ficam com a impressão retrógrada que é difícil firmar parcerias universidade-empresa, mas isso não se sustenta a ponto de que apresentamos nossos indicadores. A Unicamp, por exemplo, ultrapassou pelo segundo ano consecutivo, a marca de R$ 100 milhões investidos por empresas em sua pesquisa em 2019.”, justificou Frateschi sobre a atuação da Agência.

Além dos projetos colaborativos, o diretor-executivo ressaltou que esse relacionamento universidade-empresa também ocorre de outras formas importantes para a sociedade, como o licenciamento de tecnologias da Unicamp pelas empresas e a criação de empresas-filhas da Unicamp: “É necessário ter uma visão holística e integrada sobre a diversidade de interações para fortalecermos constantemente o ecossistema inovador em torno da Unicamp, como o fomento ao empreendedorismo entre os alunos e a comunidade que pode até mesmo gerar empresas spin-offs da Unicamp.”, complementou Frateschi.

Um exemplo de empresa spin-off, aquelas startups criadas para explorar uma tecnologia da Universidade, que surgiu a partir desse relacionamento fomentado pela Inova e que licenciou no ano passado uma tecnologia do portfólio de patentes da Universidade é a startup Cognita Technology. A spin-off surgiu  após a participação dos fundadores na competição Desafio Unicamp com a tecnologia de nanopartículas feitas de óleos de cozinha no combate ao colesterol, desenvolvida durante a pesquisa de doutorado de Valéria Santos, cofundadora da startup, na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) e na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp.

“Gosto de ressaltar o perfil pesquisador de todos os fundadores para explicar nossa história e também para compartilhar a visão de alguém que já esteve do lado pesquisador e agora está do lado empreendedor como eu: Vejo como fundamental o apoio da Inova nas nossas atividades. A Inova nos ajudou desde a redação da patente, até a modelagem do negócio durante o Desafio Unicamp e, depois, no licenciamento da tecnologia quando criamos a empresa.”, compartilhou Santos sobre sua experiência na criação da Cognita.

Atualmente, essa spin-off da Unicamp está avaliando como as nanopartículas se comportam nos alimentos em questões de estabilidade e análises sensoriais na fase 2 do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP.

Essas e outras experiências foram compartilhadas no webinar “Prêmio Inventores: Cultura de Relação Universidade-Empresa”, que contou com a participação de 162 pessoas conectadas ao vivo e agora está disponível na íntegra no canal do YouTube da Inova Unicamp.

 

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