Unicamp desenvolve desinfetante que gelifica no instante da aplicação

Foto mostra em primeiro plano uma amostra do gel desinfetante desenvolvido que está entre placas de vidro circulares. Em segundo plano aparece parte do rosto e da mão do pesquisador Rafael que segura o recipiente. Fim da descrição.
Solução micelar em spray pode auxiliar na desinfecção de superfícies e equipamentos onde produtos tradicionais não alcançam

Texto: Ana Paula Palazi | Fotos: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp

Na limpeza de superfícies que requerem controle da proliferação de micro-organismos, alcançar frestas, poros e ranhuras pode ser bem trabalhoso e demandar diferentes produtos. Soluções aquosas tendem a escorrer facilmente das superfícies, reduzindo o tempo de ação, e outras em gel podem não ser tão eficazes e seguras, comprometendo a higienização. Uma composição desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, contudo, consegue juntar o melhor dos dois mundos. 

Imagem em preto e branco mostra longas linhas entrelaçadas. Fim da descrição.

Microscopia eletrônica de micelas gigantes congeladas. Crédito: Arquivo pessoal.

“O objetivo da pesquisa foi desenvolver um desinfetante com alto poder bactericida, que ao ser aplicado na forma aquosa reagisse no local formando instantaneamente um gel, com uma composição menos tóxica e menos corrosiva para a limpeza de ambientes e diferentes superfícies”, disse o professor e pesquisador da Unicamp, Edvaldo Sabadini. 

O invento se baseia em um dos fundamentos da química, como comenta o pesquisador responsável pelo estudo. “O mesmo mecanismo, denominado por efeito hidrofóbico, que levou à formação das membranas nos organismos mais primitivos que deram origem à vida, promove a formação do gel bactericida”, explica. Trata-se da criação de micelas gigantes, agregados moleculares também conhecidos por seu formato alongado, como mostrado na imagem obtida por microscopia eletrônica da solução de micelas congeladas. 

A nova formulação contém dois compostos muito conhecidos no mercado por seu poder bactericida, sendo usados em enxaguantes bucais. São eles o cloreto de cetilpiridínio e o timol. “A literatura já relata a ação bactericida do cetilpiridínio e do timol há muito tempo. Acreditávamos que as duas substâncias bactericidas apresentavam todas as características estruturais necessárias para a formação das micelas gigantes em água e, isto foi demonstrado no trabalho de Mestrado do Rafael Ishikawa”, disse o pesquisador.  

Transição de fase 

A formação dos hidrogéis ocorre quando as duas substâncias que se encontram dissolvidas em água, mas em compartimentos separados, são combinadas no spray. Separadas, elas apresentam a mesma viscosidade da água, mas quando combinadas formam rapidamente o gel. A malha formada é capaz de aprisionar uma grande quantidade de água, garantindo as características do gel bactericida.

Um aspecto interessante da invenção capaz de gerar inovação no setor de produtos de limpeza é a viscosidade do gel, que pode ser facilmente ajustada variando-se concentração e proporção dos dois componentes. Géis mais consistentes podem ser obtidos usando uma concentração maior de micelas gigantes, pois neste caso, formam-se mais destes “espaguetes moleculares”, que, portanto, se entrelaçam mais.  

“Quando você combina esses dois ingredientes, além da produção do gel, cria um sinergismo em relação ao poder bactericida”. Testes realizados em laboratório demonstraram que o produto apresenta especial sinergia contra uma espécie de Salmonella, causadora de infecções recorrentes na produção de suínos.  

Aplicações do desinfetante com gelificação instantânea

De acordo com Sabadini, o desinfetante em gel pode ser empregado na limpeza de diferentes superfícies – como metal, plástico, vidro, madeira e azulejos -, principalmente em superfícies mais porosas e inclinadas, nas quais é desejável que o produto mantenha sua atuação desinfetante por algum tempo sem escorrer. 

“Você pode ter um gel bactericida colocando polímero em uma formulação bactericida, mas neste caso, o gel pode não atingir regiões mais restritas, por ser viscoso. O diferencial desta invenção é que o aumento de viscosidade somente ocorre quando os dois líquidos, pouco viscosos se separados, entram em contato. Com isso você consegue maior cobertura de superfícies porosas e melhor desinfecção“, exemplifica.

A formulação proposta no invento não contém hipoclorito de sódio, sendo uma alternativa para boa parte dos produtos de limpeza disponíveis no mercado. O composto não apresenta desvantagens como degradação do ativo por ação microbiana ou degradação química. 

O gel bactericida também não tem propriedades corrosivas, que podem danificar equipamentos, sendo esta uma outra vantagem. As micelas agem sem agredir a estrutura que estão higienizando. O produto ainda é lavável e de fácil remoção. Ao aplicar água na superfície que recebeu o gel, a diluição resulta na desagregação instantânea das micelas gigantes, e seus componentes são facilmente removidos. 

Transferência de tecnologia

O professor Edvaldo Sabadini e o pesquisador Rafael Ishikawa demonstraram a formação de micelas gigantes de cetilpiridínio e timol.

Além do professor da Unicamp, Edvaldo Sabadini, o pesquisador Rafael Francisco Ishikawa também participou do estudo que gerou a invenção. O ineditismo da pesquisa científica e o potencial de aplicação industrial da composição antimicrobiana levou a Agência de Inovação Inova Unicamp a solicitar a proteção da propriedade intelectual do invento, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Atualmente, a tecnologia faz parte do Portfólio de Patentes da Unicamp e está disponível para licenciamento

Empresas e instituições públicas ou privadas interessadas na transferência da tecnologia para promover a inovação de seus produtos ou processos podem entrar em contato diretamente com a Inova Unicamp pelo formulário de conexão pesquisa-mercado disponível no site da Agência.

Além do acesso a tecnologias de ponta, a transferência de tecnologia reduz riscos associados ao desenvolvimento de novos produtos e processos e colabora para o desenvolvimento socioeconômico baseado no conhecimento científico.

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