Anti-covid e fungicida: a polivalente tecnologia desinfetante desenvolvida pela Unicamp

Foto dos pesquisadores em ambiente de laboratório. Da esquerda para direita, Éder Lopes, Clarice Arns e Laís Pellizzer Gabriel, cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do pó de micropartículas de cobre com ação biocida. Fim da descrição.
Elaborado a partir de pesquisa multidisciplinar, a solução a base de micropartículas de cobre se destaca pela versatilidade, o que motivou o licenciamento, com apoio da Inova Unicamp, por uma empresa do agronegócio.

Esta reportagem compõe a série Prêmio Inventores 2023  Texto: Allison Silva Almeida | Foto: Pedro Amatuzzi – Inova Unicamp

Em meio a pandemia da covid-19, Éder Najar Lopes, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (FEM Unicamp), teve uma ideia: testar soluções que impedissem a fixação viral do coronavírus em diversas superfícies. Com experiência prévia no estudo do cobre, um dos primeiros agentes desinfetantes utilizados pela humanidade, decidiu explorar como esse elemento poderia ajudar na busca por procedimentos eficazes no controle da pandemia.

“Foi um período difícil que a Universidade só abria para estudos que tivessem relação com o Sars-Covid-2. Apesar de não ser das Ciências Médicas ou Biológicas, decidi ajudar meus colegas de alguma forma. Já tinha trabalhado com o cobre e imaginava que este elemento poderia ajudar na confecção de alguma solução para ser utilizada naquele momento”, relembra Lopes

A ação se tornou o embrião de uma pesquisa multidisciplinar que envolveu profissionais da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Em seis meses de atividades laboratoriais, os cientistas descobriram que micropartículas de cobre, que variam de 20 a 60 micrômetros de tamanho, menores que um grão de areia, quando incorporadas a superfícies tinham a capacidade de criar uma barreira sanitária capaz de ajudar a barrar a circulação do coronavírus em ambientes de alto risco de contaminação. 

“O cobre se mostrou eficaz de várias formas, mas, especificamente nesta configuração em micropartículas, ele foi capaz de eliminar até 99,99% dos vírus da Sars-Covid-2, duas horas após a aplicação do composto em superfícies. Os testes demonstraram outras características como a atoxicidade em células humanas e a ação prolongada da composição nos ambientes. Nossos estudos laboratoriais têm demonstrado também uma alta eficiência deste composto contra vírus de outras espécies como o da Influenza, o HIV e o H1N1”, afirma Clarice Arns, professora do IB Unicamp, que chefiou os estudos laboratoriais relacionados à eficiência do composto.

O composto não afeta a qualidade dos colorantes industriais à base de solventes ou água, o que o torna ideal como um aditivo que pode ser misturado em tintas para proteger paredes e muros. Esta ação pode ajudar a reduzir significativamente o risco de contaminação em ambientes com alta circulação de pessoas, como hospitais, transporte público e estádios de futebol. A invenção da Unicamp, protegida com estratégia da Agência de Inovação Inova Unicamp, pode ser usada sem misturas, como revestimento para utensílios compartilhados de plástico ou metal, que muitas vezes são agentes impulsionadores de doenças virais.

“A solução à base de cobre que desenvolvemos inicialmente foi pensada para uso em locais com alta circulação de pessoas e em dispositivos de uso compartilhado, como maçanetas, botões de elevador e barras de segurança em transporte público. No entanto, descobrimos que, por não interferir nas propriedades dos produtos finais, existem outras possibilidades de uso, como o revestimento de roupas, embalagens e máscaras cirúrgicas”, explica Laís Pellizzer Gabriel, professora da FCA Unicamp.

Os pesquisadores da Unicamp estudam outras maneiras de desenvolver novas soluções contendo o metal. Em junho de 2023, uma outra tecnologia protegida da Unicamp teve o depósito publicado nacionalmente. Trata-se de um revestimento à base de cobre que pode ser incorporado junto a implantes de titânio e ligas metálicas. “Estamos observando a melhor maneira de utilizar o cobre na engenharia de aplicações médicas. A utilização do cobre como revestimento para implantes médicos é um recurso interessante, pois o procedimento pode evitar a proliferação de bactérias em tais superfícies, ampliando o tempo útil dos implantes”, pontua Lopes.

Parceria com a Valeouro Biotec

A versatilidade do composto à base de micropartículas de cobre despertou o interesse da startup Valeouro Biotec, uma spinoff do grupo Ourofino, que se dedica ao desenvolvimento de soluções  para o agronegócio. Com negociações intermediadas pela Inova Unicamp, a empresa licenciou a tecnologia para desenvolver novas soluções relacionadas à agricultura. 

“Acabamos nos informando por meio de uma matéria divulgada pela mídia sobre a invenção. Em contato com os cientistas da Unicamp e com a Inova, observamos uma oportunidade para inovar no campo, estabelecendo parceria com a Universidade, utilizando então o composto para o desenvolvimento de novas formulações e soluções contra doenças que atingem as principais culturas de importância econômica do país, como a soja, café e as culturas cítricas”, explica Francisco Dimaté, pós-graduado em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e gerente de desenvolvimento de P&D da Valeouro Biotec.

A parceria entre a Unicamp e a startup Valeouro Biotec foca no desenvolvimento de soluções técnicas com propriedades fungicidas que contribuam no manejo e controle de doenças que afetam as culturas. Dentro das instalações dedicadas ao desenvolvimento de novos produtos, os pesquisadores estão conduzindo uma série de experimentos visando a otimização da invenção para uso na agricultura.

Francisco Dimaté aponta que os resultados são promissores, mas são necessários mais estudos para a elaboração de novos produtos. “A Valeouro é uma empresa que tem como princípio priorizar o desenvolvimento de soluções inovadoras, eficientes, seguras e sustentáveis para o agronegócio. Nesse sentido, estamos adotando todas as medidas necessárias para adaptar a invenção desenvolvida pela Unicamp ao setor agrícola. Estamos em uma fase inicial e em conformidade com os procedimentos estabelecidos pela legislação brasileira, a fim de garantir que a inovação seja não apenas eficaz, mas também totalmente segura.”

PRÊMIO INVENTORES 2023

logo do Prêmio Inventores nas cores verde claro e azul. O desenho são duas cabeças que formam uma lâmpada e embaixo o texto Prêmio Inventores UnicampINVENTORES PREMIADOS NESTE LICENCIAMENTO:

Éder Sócrates Najar Lopes, Laís Pellizzer Gabriel, Clarice Weis Arns, Thais Bonatto Borghi E Silva, Ana Paula De Moraes e Gislaine Santos Jacinto foram premiados na categoria Propriedade Intelectual Licenciada no Prêmio Inventores 2023.

PROGRAMAÇÃO DE HOMENAGENS

Esta reportagem integra a série de matérias elaboradas pela Inova Unicamp a respeito de algumas das tecnologias da Unicamp licenciadas. Você pode acessar esses conteúdos tanto através do site da Inova quanto em formato de ebook na próxima edição da Revista Prêmio Inventores, programada para ser lançada em setembro.

Além disso, um webinar já está programado para o dia 13 de setembro. O webinar abordará o tema “Empreendimentos Baseados em Conhecimento Científico: As Tecnologias da Unicamp na Sociedade”. A inscrição para esse evento está aberta ao público em geral.

Os patrocinadores do Prêmio Inventores 2023 são: ClarkeModetFM2S; Interfarma; e Antoniense