Antropóloga empreende na área de assessoria socioambiental

Pessoas segurando um guarda-chuva para se proteger do sol enquanto navegam em uma canoa
Fundada por uma ex-aluna do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, a Atto Ambiental é uma empresa que atende uma crescente demanda por projetos de assessoria socioambiental em todo o país.

Esta matéria faz parte da série de reportagens produzidas pela Inova sobre as empresas que compõem o ecossistema empreendedor da Unicamp. Saiba que tipos de empresas podem integrar esse ecossistema e como se cadastrar na página de Vivência Empreendedora

Texto: Christian Marra | Fotos: Leslye Bombonatto Ursini

Para quem imagina que o campo de trabalho dos antropólogos limita-se ao universo acadêmico, a antropóloga Leslye Bombonatto Ursini demonstra que empreender com sucesso também é possível. Ela fundou em maio de 2017 a Atto Ambiental, uma empresa-filha da Unicamp que presta serviços de assessoria e consultoria em projetos, análises e estudos ambientais que envolvem os povos indígenas e quilombolas. Um serviço que, segundo ela, tem apresentado uma demanda sem precedentes em um histórico recente.

Leslye explica que a presença do antropólogo é essencial em todo e qualquer projeto de licenciamento ambiental que envolva a presença de povos e comunidades tradicionais. Como esse tipo de projeto vem sendo executado com frequência crescente, sua empresa tem recebido contínuas demandas de trabalho:

“A Atto atende em especial às empresas privadas, ou seja, atua no segmento B2B. Também, somos parceiros de grandes empresas que vencem licitações do governo e precisam apresentar estudos de impactos socioambientais para os processos administrativos do licenciamento ambiental. Atualmente, a empresa elabora estudos para empresas das áreas de celulose e de mineração, não somente para o licenciamento ambiental.”

 

Senhor vestido de amarelo sentado em uma cadeira, ao lado dele encontramos uma mulher de blusa azul com gola rosa sorrindo. Ao fundo vemos uma parede de cor azul

A antropóloga Leslye Bombonatto Ursini com Jailton José de Oliveira (“tio” Jau), indígena Wassu, na terra indígena Wasu-Cocal, em Alagoas

Projetos socioambientais em alta

Para atender essas demandas, a Atto mobiliza e desmobiliza equipes por projeto para realizar o trabalho de consultoria. Mas, de acordo com Leslye, a tendência é passar a contar com equipes permanentes. Segunda ela, desde a fundação da Atto, a empresa sempre contou com um corpo de especialistas que era constituído assim que o contrato de cada projeto era assinado. As equipes seguiam um cronograma de trabalho e eram dissolvidas quando o projeto se encerrava.

Mas com o aumento da demanda por projetos ambientais, seu método de trabalho terá que se adequar. Serão necessárias equipes perenes. E isso vai exigir uma nova abordagem na forma de trabalho: 

“Agora é o momento de crescer. As demandas de trabalho não param. E não são apenas projetos de licenciamento ambiental. Nós somos chamados para pensarmos juntos na resolução de problemas sociais. Há algum tempo, por exemplo, era comum se pensar que comunidades que ocupavam locais onde projetos seriam implantados fossem removidas e se cogitava que antropólogos pudessem ajudar nesse processo. Hoje, a postura é bem diferente na forma de tratar as comunidades tradicionais e o incremento da legislação tem relação com isso. Nosso papel é conhecer as comunidades e encontrar a melhor solução. As comunidades tradicionais estão mais fortalecidas, conquistaram mais espaços”.

O crescimento da Atto tem sido um grande desafio em sua carreira. Segundo Leslye, é pouco comum haver donos de empresas e empreendedores que são antropólogos. “Conheço alguns, mas são poucos. A formação é muito voltada à academia. Não é uma formação talhada para o mercado e, tampouco, é considerada profissão. É preciso fazer o caminho por conta própria”, explica.

Crianças dentro de casa olhando para fora da janela

Meninos indígenas Wassu na terra indígena Wassu-Cocal (Alagoas), durante projeto da Atto com condicionantes do Licenciamento Ambiental das obras de duplicação da rodovia BR-101

Forte conexão com a Unicamp

Leslye tem uma longa conexão com o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH – Unicamp), onde cursou a graduação, o mestrado e o doutorado. “Só falta eu me aposentar pelo IFCH”, ela brinca.

Ela também atuou na área governamental, em Brasília, onde viveu por vários anos. Até 2015, Leslye era servidora efetiva do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), onde trabalhava com regularização fundiária de territórios quilombolas. Deixou a função para abrir a Atto Ambiental, na mesma época em que escrevia sua tese de doutorado no IFCH. Mesmo atuando em projetos nas regiões Norte e Centro-Oeste do país na maior parte dos casos, a sede da Atto encontra-se em Campinas. Ela ressalta o importante papel que a Unicamp exerce em sua carreira:

“Fiz mestrado e fui trabalhar em órgãos públicos em Brasília. Em muitas das reuniões que participei, sempre me deparava com gente da Unicamp. Então mantive contato com essas pessoas, até voltar para fazer doutorado. Tenho uma grande confiança nessa Universidade. A formação acadêmica sempre me deu muita segurança para desbravar um universo que a gente não conhecia, ter um ponto de vista diferente das comunidades, estar preparado para conhecê-las. Essa formação sempre me ajudou muito”.

Para o futuro, Leslye planeja desenvolver uma metodologia de abordagem de campo, para ouvir e conhecer melhor as comunidades estudadas pelo antropólogo. “Estou planejando sistematizar uma metodologia para impactos sociais, preferencialmente junto a algum instituto da Unicamp”, conclui. 

Ecossistema empreendedor da Unicamp

Um dos ecossistemas empreendedores que a Atto Ambiental faz parte é o Unicamp Ventures, fomentado pela Agência de Inovação Inova Unicampque produz conteúdo (como esta matéria) e eventos reunindo as empresas-filhas da Universidade. A Inova Unicamp também é a porta de entrada para empresas que desejem se conectar com grupos de pesquisa para projetos em cooperação com a Universidade.

Podem compor ao ecossistema os empreendimentos fundados por pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Universidade, tais como alunos, ex-alunos, docentes e funcionários ou ex-funcionários. Além de startups que foram incubadas na Incamp ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na Universidade, as chamadas empresas spin-off.

A Inova Unicamp está com o cadastro aberto para mapear novas empresas de seu ecossistema. O cadastro é gratuito, acesse e faça parte em: https://www.inova.unicamp.br/cadastro-filhas/